Investidores colocam em xeque tarifaço de Trump, mas ativos seguem apanhando

A sinalização é ruim para o envolvente de investimentos no Brasil, com o termômetro do risco subindo por cá.

Mas os ativos domésticos não apanharam tanto quanto ontem, num pregão que foi marcado pelas expectativas em torno do proclamação – que pegou de surpresa a maioria dos investidores e até mesmo o governo.

Ou seja: embora chocante, o proclamação já sabido puniu menos ativos domésticos hoje do que as expectativas em torno dele ontem.

• O Ibovespa cedeu 0,54%, aos 136.743 pontos. Nesta semana, as perdas do índice somam 3,2%, o que representou uma viradela no amontoado no mês de julho para uma queda de 1,52%. Do início do ano até cá, a valorização da carteira foi reduzida a 13,68%.

Até mesmo o câmbio conseguiu reduzir as perdas durante o dia. É verdade que a queda do real perante o dólar foi amortecida pela força das ações metálicas, principalmente da Vale, turbinadas pela valorização do minério de ferro.

• O dólar mercantil avançou 0,7% contra o real e fechou a sessão em R$ 5,54. Na semana, a moeda acumula subida de 2,18% e, em julho, de 2%. Mas, considerando o período desde o início do ano, ficou 10,3% mais barata para o brasílio.

Depois do susto de ontem, analistas e gestores começam a levantar dúvidas sobre se a política tarifária de Donald Trump contra o Brasil vai perdurar até o início de agosto, quando deveria entrar em vigor.

A medida pegou mal. Não unicamente por cá, mas internacionalmente também. As claras intenções políticas de Trump com a tarifa de 50% deturpam relações comerciais.

Mas, hoje, especialistas põem em xeque a credibilidade de Trump. E isso tem um dispêndio à eficiência de suas políticas. A XP, por exemplo, mantém suas estratégias de alocação para o segundo semestre, apesar do estresse com o evento de ontem.

• A taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu de 14,92% para 14,94% ao ano. Prêmios em contratos de limitado prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 foram de 13,30% para 13,46%ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa subiu de 13,49% para 13,62% ao ano. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

Para a alocação na bolsa, a principal questão levantada pela equipe da mansão é a falta de credibilidade de Trump. Desde o Liberation Day (“Dia da Libertação”, em tradução livre do inglês), uma vez que o presidente americano chamou a data de proclamação do tarifaço, seu comportamento instável, as bravatas e o vaivém nas negociações com outros países levantam dúvidas sobre se a tarifa anunciada ontem contra o Brasil vai se efetivar ou se poderá ser contornada pelos governos.

Outrossim, a tarifa pode se tornar uma “arma” de opositores contra a ultra-direita dos Bolsonaro e até mesmo Tarcísio de Freitas (Republicanos), que podem perder capital político e ter a imagem enfraquecida por terem se desempenado a um líder que hoje ataca o país.

As peças já começaram a se movimentar e o ex-presidente Jair Bolsonaro articula um pedido à Moradia Branca para a suspensão da tarifa contra o Brasil.

• Nesse jogo de forças, a carteira do Ibovespa movimentou R$ 20,6 bilhões hoje, 25% supra da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,5 bilhões.

Acontece que os estrangeiros que cá alocaram seus dólares nesse início de ano, responsáveis por sustentar os recordes do Ibovespa, mantiveram a fuga dos ativos brasileiros.

O fundo de índice (ETF) EWZ, que acompanha o MSCI Brazil, a cesta de referência de ativos brasileiros no exterior, afundou 1,56% nesta sessão. Para cotas com baixa volatilidade, que variam entre queda máxima de 0,5% e subida máxima de 0,5% na média, o movimento mostrou uma redução significativa das posições de investidores de fora no país.

Embora uma queda mais ampla que o próprio Ibovespa – que sugere alguma força contrária na bolsa hoje comprando ações domésticas.

De concreto, sabe-se que a salvação da bolsa do Brasil hoje foi o minério de ferro. O preço do contrato do minério de ferro para entrega em setembro disparou quase 4% na Bolsa de Dalian, na China, cotado sobre US$ 106 a tonelada.

Com isso, a ação da gigante Vale, o ativo de maior peso na carteira do Ibovespa atualmente, avançou 2,29%. Outras metálicas também pegaram o impulso da valorização da commodity, tendo a CSN disparado mais de 5%.

No exterior, as ADRs (certificado negociável emitido por bancos americanos que representa ações de empresas estrangeiras) da Vale tiveram subida de 1% na Bolsa de Novidade York (Nyse).

• Das 84 ações que fazem segmento do Ibovespa atualmente, 57 desvalorizaram nesta sessão.