'Efeito Trump' derruba Ibovespa em 2% na semana. Mas preço para o Brasil vai muito além da bolsa

Basicamente, o “Trump trade” se referia aos efeitos da agenda defendida pelo 47º director de Estado americano sobre os ativos financeiros. Em antecipação a ela, investidores já faziam seus trades. E entre as perspectivas estavam um cenário mais negativo para investir na bolsa do Brasil e o rali no mercado de criptoativos.

Pois muito, o preço de Trump chegou ao mercado financeiro. Embora com bastante detido.

• O Ibovespa caiu mais de 2% nesta semana e encerra esta sexta-feira (18) de volta aos 133 milénio pontos. Com a escalada das tensões nesta sessão, caiu 1,6%. No mês de julho, a queda do índice está acumulada em quase 4%. Do primórdio do ano até cá, a subida da carteira foi reduzida a 10,9%.

Assim, a carteira teórica mais negociada da B3, a bolsa do Brasil, bateu o menor nível em quase três meses. Desde o dia 23 de abril, sessão que fechou em 132.216 pontos, o índice não descia tão reles.

Ainda que as perspectivas não fossem tão favoráveis aos ativos domésticos, pouca gente imaginou que a situação para o Brasil seria mais grave. O país nunca esteve entre os principais alvos de Trump.

Isso mudou, aparentemente, com o progressão do processo no Supremo Tribunal Federalista (STF) sobre tentativas de golpe de Estado, que tem entre os réus o ex-presidente Jair Bolsonaro. A pretexto de proteger seus aliados políticos ao sul dos Trópicos, Trump lidera ofensivas comerciais e judiciais contra o país. Com poucos casos semelhantes ao do Brasil no mundo hoje.

• Foi sob esse risco que o dólar mercantil ficou 0,7% mais dispendioso entre segunda e sexta desta semana. Somente hoje, avançou 0,73%, a R$ 5,59. No reunido de julho, tem valorização de 2,83%. Do início do ano até cá, a moeda americana está 9,6% mais barata para o brasílio.

“A operação da Polícia Federalista contra o ex-presidente Jair Bolsonaro aumentou a tensão nos mercados. Mas o ponto médio não é exatamente a operação em si, e sim o receio do impacto disso nas relações com os Estados Unidos, mormente considerando o momento frágil com a questão tarifária imposta pelo Trump”, pondera Christian Iarussi, economista e sócio da The Hill Capital.

• A carteira do Ibovespa movimentou R$ 19,6 bilhões hoje, 18% supra da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,6 bilhões.

O sócio da The Hill Capital lembra que a elevação da liquidez hoje tem relação com os vencimentos de contratos de opções. Mas o movimento vendedor também foi mais potente, uma reação à escalada do risco no envolvente doméstico, que impele a realização dos lucros em renda variável.

Matheus Amaral, perito em renda variável do Inter, também labareda atenção para o peso de papéis do setor financeiro na queda do Ibovespa hoje. Bancos e instituições financeiras estão entre as empresas preferidas pelos investidores estrangeiros que alocam na bolsa do Brasil.

“[Os estrangeiros] veem nesses papéis resiliência, mesmo em momentos de crise. Teoricamente, essa instabilidade jurídica de momento e a questão envolvendo os aspectos políticos deixam o investidor estrangeiro receoso, podendo suscitar fuga de capital”, diz Amaral.

• Das 84 ações que fazem secção do Ibovespa atualmente, 71 desvalorizaram nesta sessão. Na semana, 59 papéis da carteira recuaram.

Cabe lembrar também que essas ações de setores financeiros têm mais peso em índices de referência para a bolsa brasileira, casos do MSCI Brazil, a cesta de ativos domésticos mais negociada na Bolsa de Novidade York (Nyse), e o próprio Ibovespa. E boa secção dos movimentos dos gringos para cá tem sido passivo, ou seja, indexado a esses índices.

O fundo de índice (ETF) EWZ, que acompanha o MSCI Brazil recuou 3% na Nyse, enquanto o ETF que acompanha o índice de ativos dos mercados emergentes (EEM) cedeu unicamente 0,22%.

O preço das ofensivas de Trump

Para o investidor endinheirado, o “preço-Trump” pode até ser momentaneamente driblado com alocações em títulos de renda fixa ou estratégias mais defensivas neste momento. Mas existe um preço real a ser pago pela economia brasileira para a qual as ofensivas do presidente americano não oferecem hoje nenhuma saída.

“Há um temor real de que Trump use a situação para justificar uma escalada tarifária contra o Brasil. E isso pega direto em setores mais exportadores porquê agronegócio, aviação e manufatura”, acrescenta Iarussi.

A sensação de risco também afeta perspectivas para o mercado doméstico. Isso porque, embora o Brasil esteja na traço de incêndio, outros grandes parceiros comerciais dos EUA também estão.

• A taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 saiu de 14,94% para 14,96% ao ano. Prêmios em contratos de limitado prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 foram de 13,59% para 13,64%ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa subiu de 13,82% para 13,85% ao ano. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

E, basicamente, a agenda tarifária do presidente americano é altamente inflacionária. Contra a União Europeia, o político do partido Republicano mostrou hoje pouca disposição a negociar tarifas menores que 20%, apesar dos esforços do conjunto em negociações.

Porquê especialistas vêm alertando desde o primórdio do procuração de Trump – e, particularmente, desde o proclamação do tarifaço – essas políticas podem implicar no aquecimento da inflação na maior economia do mundo. Mas não que os EUA paguem sozinhos por essa agenda.

A reorganização mercantil e as incertezas trazidas pelo líder da potência global podem ter consequências inflacionárias no resto do mundo. Isso porque uma secção da constituição da subida dos preços são as expectativas.

Se comerciantes e produtores passam a prever aumento de tarifas adiante, podem antecipar pedidos e compras para preservarem as margens. Os fornecedores, por sua vez, tentam testificar seus ganhos e possíveis impactos na demanda elevando preços antes mesmo de medidas entrarem em vigor. É a costura psicológica da economia que tem influência relevante na constituição desses indicadores.