Fed deve trinchar juros a partir de setembro, diz ex-presidente do BC, Campos Neto
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Há indicadores de que a economia americana caminha num ritmo mais suave e isso deve permitir que o Federalista Reserve (Fed, o banco médio americano) comece a relaxar a política monetária a partir de setembro, comentou o ex-presidente do Banco Mediano (BC) Roberto Campos Neto, hoje vice-chairman do Nubank, em evento da instituição, em São Paulo.
“Alguns dados começam a mostrar extenuação. Se a gente olhar, por exemplo, o ‘unemployment’ contra a lisura de [vagas de] trabalho, ele se inverteu, um passou a ser maior do que o outro. Isso não acontecia há bastante tempo, há alguns anos, se não me miragem desde 2021”, disse Campos Neto.
Ele acrescentou que, apesar ter uma versão de que a curva curta de juros começa a tombar, a longa continua pressionada. Fruto das políticas de retardamento quantitativo e de incentivos fiscais durante a pandemia de covid-19, o endividamento público escalou. Os governos gastaram muito e os bancos centrais reduziram demais os juros.
“É porquê se tivesse dois aceleradores ao mesmo tempo. Isso fez com que se evitasse uma grande recessão, a gente chegou a falar em depressão global e teve uma recessão pequena, dependendo do lugar. Mas o efeito paralelo disso é que a inflação subiu muito, porque teve muito quantia [circulando nas economias].”
Posteriormente debates se os efeitos da inflação seriam temporários, Campos Neto afirmou que tratou-se de uma pressão claramente puxada pela demanda. Mas o que aconteceu depois disso é que a dívida ficou muito maior e os juros que tiveram que ser ajustados para combater a inflação também.
“Logo, se eu tenho dívida maior e juros maiores, eu tenho um dispêndio de rolagem muito maior, que é exatamente o tamanho da dívida vezes os juros.” Se há um dispêndio de rolagem maior, a economia acaba sugando a liquidez de outros lugares.
Para lastrar as contas, as alternativas são aumentar impostos ou trinchar gastos, mas a experiência mostra que o ajuste sempre veio pelo lado da arrecadação.
“Só que esse imposto maior tem uma propriedade específica também, ele não é um imposto em todas as áreas de economia ou em todos os fatores de produção, é muito mais intenso no capital do que na mão de obra”, disse Campos Neto. “É um imposto geralmente cobrado do estoque de poupança e nas empresas.” É o que provoca queda de produtividade grande, em que há maior ofício de mão de obra nos processos produtivos do que capital.
“A grande questão é estar nessa cilada, em que há baixa produtividade global, com algumas exceções, o envelhecimento da população, uma dívida muito grande, muita conta para remunerar, tem uma conta geopolítica, uma conta de resguardo, tem uma conta da transformação sustentável no mundo.”
A forma organizada de fazer o ajuste seria cortando gastos, diagnóstico que cabe para os Estados Unidos e para o Brasil.
Teor publicado originalmente no Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.
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