Vale tudo!
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Se o leitor está pensando que vou comentar sobre a romance, em virtude do título, se equivocou. A pilastra não tem a ver com a “não morte” de Odete Roitman, Maria de Fátima ou qualquer outro personagem. O título do texto está relacionado aos “vales” que o governo está concedendo (e prometendo conceder) à sociedade.
Vamos listar, para não perder a relato: vale gás, vale farmácia, vale ônibus, vale moto, vale luz, vale meia, vale cursinho, vale crédito, vale perito, vale reforma… vale tudo!
Quero realçar alguns dados importantes sobre a situação brasileira atual. A população em idade de trabalho é de 177 milhões. No Cadastro Único do governo, estão registrados 95 milhões de concidadãos (MDS), sendo que quase 20 milhões de famílias recebem o Bolsa Família, enquanto existem 350 milénio brasileiros em situação de rua.
Na seara macroeconômica, temos um déficit público, até setembro de 2025, de R$ 100 bilhões (IFI), com quase outros R$ 100 bilhões em exceções (enchentes e calamidades, precatórios, ressarcimento do INSS, prejudicados pelo tarifaço americano, etc.), sendo que o Tórax Fiscal do ministro Haddad prometeu zerá-lo. E vamos soltar rojões se conseguirmos compreender -0,25% do “teto permitido”, ou muro de R$ 30 bilhões. Para exacerbar a situação, o governo pediu ao Congresso que adiasse a discussão da LDO/26, para negociar a retirada da exigência de entregar um superávit de R$ 34 bilhões no próximo ano.
Indo adiante, estamos operando supra do pleno serviço, o que pressiona o IPCA para longe da meta de 3%. Temos as estatais com buracos paquidérmicos, a relação dívida/PIB caminhando para 100% (de tratado com previsões do FMI), a Selic em 15% ao ano, prêmio na NTN-B de 8% ao ano, além de gastarmos 8% do PIB em juros por ano.
A cada novo “vale” anunciado, surge a incerteza sobre a eficiência dessas medidas. Por um lado, é inegável que podem mitigar momentaneamente a pressão sobre as famílias mais vulneráveis. Por outro, é preciso refletir sobre o impacto de tantas promessas no médio e longo prazo, mormente às vésperas de um ano eleitoral.
A proposta de repartir benefícios, em vez de investir em soluções estruturais, pode ser uma estratégia imediatista, mas não resolve os problemas centrais da economia, porquê o insignificante propagação, o desemprego de longa duração, a produtividade estagnada e o aumento da desigualdade, exacerbado por um renda real proeminente, que favorece os mais ricos, que aplicam seus recursos poupados. Ou seja, em vez de produzir uma rede de esteio sólida e sustentável, estamos assistindo a um “jogo” de paliativos.
O indumentária é que, ao olharmos para o cenário macroeconômico, o quadro é bastante preocupante, porquê descrevi supra. Com um déficit crescente, a promessa de zerá-lo através de medidas pontuais e aumento de impostos parece ser um esforço de pequeno prazo que não leva em consideração as necessidades de longo prazo do país. Lembrando que também temos um déficit em transações correntes preocupante, de 3,5% do PIB.
Assim, o governo se vê entre a cruz e a punhal, tentando lastrar as contas públicas, aumentando impostos (porquê o IOF, que bate recordes), enquanto investe em manter a popularidade através de benefícios diretos, um caso clássico de assistencialismo, com olho nas eleições de 2026. Porém, a fórmula de “gastar para lucrar esteio” tem mostrado suas limitações, já que o aumento da dívida pública e a falta de investimentos em áreas fundamentais, porquê ensino e infraestrutura, são obstáculos para qualquer esperança de recuperação sólida, além de retroalimentar a inflação.
Abrindo um parêntese, comento com meus alunos que promover gastos sem receitas para executá-los é porquê um sujeito sedentário consumir churrasco todos os dias e crer que o resultado do lipidograma será normal. Demais, não adianta rotular gasto porquê investimento, porquê faz o presidente, pois, em sua morada, o boleto do condomínio (gasto) e a escola do fruto (investimento) precisam ser quitados também e influenciarão no superávit/déficit familiar. É, na verdade, uma questão semiologia. Fecho o parêntese.
É importante que fique evidente que auxílios pontuais podem ser uma válvula de escape para a dor imediata, mas o que realmente está em jogo é a construção de um país mais justo, com oportunidades reais de propagação para todos. Com quase 20 milhões de famílias dependendo do Bolsa Família e 350 milénio brasileiros vivendo nas ruas, fica evidente que os “vales” não são a solução para uma população que carece de políticas públicas eficazes e de longo prazo.
Na música Brasil, que iniciava a romance, Cazuza, com seu lirismo, critica o país usando a frase “grande pátria desimportante”. Encerro, porquê o poeta, alertando: é fundamental refletir sobre os dados preocupantes, que indicam uma sociedade cada vez mais polarizada e fragilizada. Fazer assistencialismo, com inflação a 5%, é dar com uma mão e retirar com a outra. Não basta incluir “o andejar de cima” no IR, porquê diz Haddad, e conceder “vales” para sobrevivência; precisamos de um sistema que proporcione honra e prosperidade. E, sem reformas estruturantes e comprometimento fiscal para zerar os déficits, no horizonte, esses vales terão valido pouco ou zero, pois a inflação irá desgastar seus eventuais benefícios.
Alexandre Espirito Santo, Sócio e Economista-Dirigente da Way Investimentos e professor de Economia e Finanças do IBMEC-RJ e ESPM
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