×

Ele ainda está lá?

Ele ainda está lá?

Ele ainda está lá?

Ele ainda está lá?

Semana passada, o comediante e apresentador americano Jimmy Fallon pegou emprestado o título do filme de Walter Salles, indicado ao Oscar, para satirizar os últimos seis meses de Joe Biden na presidência. Vou aproveitar o gancho e usar alguma coisa similar porquê referência, associado à decisão do Copom, de quarta-feira (29), que elevou a Selic em 1 ponto percentual.

Evidentemente que é uma folgança, porém, porquê todas, sempre tem um fundo de verdade: a presidente do PT e provável futura ministra, deputada Gleisi Hoffmann, atribuiu a subida de agora à gestão anterior, de Roberto Campos Neto. Ué, ele ainda está lá?

Ensino aos meus alunos que Bancos Centrais (BCs), por definição, são entidades conservadoras. Não devem trabalhar por “achismos” e permanecer torcendo para que as “coisas” caminhem a seu obséquio, daí a relevância de serem independentes. Adotam modelos econométricos para colocar a inflação na meta e os utilizam a despeito dos efeitos colaterais sobre a atividade e o serviço. Essa, aliás, é uma das razões da classe política defenestrar os presidentes dos BCs. Em qualquer país isso ocorre.

Observem que, na mesma quarta-feira, o Federalista Reserve (Fed, o banco medial americano) também deliberou sobre a sua política, mantendo seus juros parados. Tal decisão levou o recém-empossado, Donald Trump, a comentar na sua rede social que o Fed tem feito um péssimo trabalho e que, se tivesse devotado menos tempo às ideologias, a inflação não seria um problema. O presidente, há poucos dias, havia “exigido” redução imediata de juros. Creio que a relação entre Trump e Powell, que já não foi muito boa no 1º procuração, se deteriore ainda mais.

A teoria deste texto, no entanto, não é discutir tais choramingos, mas, sim, determinar o que vem ocorrendo com nossa economia e inflação, à luz dos dados e teorias.

Inflação não é a majoração de alguns poucos itens de consumo. São altas contínuas e generalizadas nos preços de bens e serviços, que impactarão os índices que a mensuram. É um fenômeno monetário e um ponto absolutamente relevante é que sua pretexto não pode ser atribuída ao empresário “malvadão”, que sobe preços para se locupletar, porquê muitos advogam. A inflação é consequência…

Recentemente, meu colega economista, professor VanDyck Silveira, postou algumas verdades em sua rede social: “Nosso PIB (3,5%) está inflado, impulsionado por um incentivo fiscal que custou 7% do resultado interno, sem o qual teríamos desenvolvido entre 2 e 2,5%, que seria o potencial”. Aí está! Quando se cresce além do pleno-emprego a tendência é a inflação romper.

VanDyck ainda ressalta que o déficit nominal, aquele que efetivamente importa, encontra-se a caminho de 10% do PIB. E cá temos a raiz da inflação: se temos déficits contínuos, uma das formas de financiá-lo é através do famigerado imposto inflacionário, porquê vem ocorrendo.

Quero complementar o texto com outras três informações relevantes:

  1. O déficit nas contas externas dobrou ano pretérito, o que, pelas magnitudes, nos impõem o temível quadro de déficits gêmeos;
  2. A inflação implícita no miolo da curva está próxima de 7%, o que é muitíssimo preocupante, pois aponta para uma mudança de patamar (basta!) perigosa e
  3. A legado estatística para o PIB de 2025 será em torno de 1,5%. Tal traje implica que se não crescermos zero em 2025 ainda assim o PIB teria proveito dessa magnitude. Ou seja, se minha estimativa de desenvolvimento para 2025 estiver correta (+2,2%) significa que a subida, de traje, será menor que 1%, já respondendo aos juros maiores.

Para fechar, melhor suspender algumas ideias estapafúrdias, porquê liberar mantimentos fora de validade ou trocar o consumo de laranja para controlar a inflação. Porquê questionou minha esposa: os preços das passagens aéreas caíram depois da decisão de as companhias cobrarem pelas malas? Sugestões porquê essas só fazem aumentar o coro para a teoria dos déficits trigêmeos, acrescentando aos dois ali de cima o terceiro: déficit de credibilidade. Deixemos livre o sistema de preços e cortemos gastos!

Alexandre Espirito Santo, Economista-Director da Way Investimentos, Coordenador de Economia e Finanças na ESPM.

espirito-santo Ele ainda está lá?
Alexandre Espirito Santo — Foto: Valor Investe

source

Publicar comentário