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Em investimentos, a pior perda é a que não conseguimos explicar

Em investimentos, a pior perda é a que não conseguimos explicar

Em investimentos, a pior perda é a que não conseguimos explicar

Em investimentos, a pior perda é a que não conseguimos explicar

Recentemente estive conversando com um aluno do MBA sobre o desempenho da Bolsa brasileira e dos ativos de risco no universal. Ele já tem seus trinta e poucos anos, trabalha na superfície de TI de uma instituição financeira, tem uma boa formação em finanças e já é investidor há mais de uma dez.

Apesar de seu bom conhecimento sobre investimentos, ele usualmente recorre aos conselhos e dicas de alguns finfluencers, notadamente aqueles que sempre veem oportunidades imperdíveis na bolsa, seja na valorização das ações, seja na distribuição de dividendos. Mas o ano de 2024 não foi fácil, as perdas se espalharam e não o pouparam.

Durante a conversa deu para perceber que ele estava imerso em um misto de recusa e esperança, alguma coisa um tanto paradoxal, mas compreensível, finalmente quem gosta de consentir que a perda é irreversível e que, portanto, sua aposta talvez tenha sido um fracasso retumbante? Um dos problemas é que, por indicação do seu guru, ele concentrou os investimentos em umas poucas ações com um suposto cumeeira potencial de valorização. Pelo menos foi o que ele achou que estava comprando.

O papo foi longo, mas meu interesse maior, naquele momento, foi entender por que, a despeito de seu conhecimento sobre o tema, ele confiava tanto nos conselhos e opiniões de alguém que ele sequer conhecia.

A resposta não chega a surpreender. O finfluencer era alguém com uma história de sucesso, investidor em bolsa há muitos anos, com muitos casos de ganhos para narrar, e até alguns fracassos, poucos, para ilustrar sua trajetória. Experiência, assertividade e a forma persuasivo porquê narrava suas teses de investimento emulavam domínio, que rapidamente o transformava em uma espécie de guru. Alguém que admiramos e no qual nos espelhamos.

Enquanto ouvia seus relatos sobre as tais orientações e recomendações, o fui questionando sobre seus fundamentos, e as respostas eram pouco convincentes. Elas não resistiam a algumas perguntas um pouco mais elaboradas e não sustentavam uma tese que justificasse o nível de concentração assumido, em próprio, em algumas das ações indicadas. O curioso desta conversa é que, apesar de concordarmos em grande segmento, ele insistia que se não fossem os erros na meio da política econômica, as tensões geopolíticas, etc. os resultados poderiam ter sido outros.

Apesar de muito entendedor sobre o tema investimentos, ele parecia estar em estado de negação. Enfim, investir é tomar decisões em meio a incerteza. O bom desempenho almejado serve para remunerar o risco, portanto, o lucro não é visível. Se ele, com todo seu preparo, tomou decisões tão equivocadas, o que pode suceder com outros menos informados?

Para evitar estas agruras, sugiro que os investidores olhem para os finfluencers porquê participantes da enxovia de venda dos produtos de investimento. Independentemente de serem eles contratados por uma instituição, eles não estão a recomendar ações, fundos imobiliários ou qualquer outro ativo de forma desinteressada. Tempo é moeda para todos nós.

Duas táticas são muito utilizadas nos processos de venda: a manipulação do enquadramento da informação e a afetividade.

Todos os investidores desejam comprar os melhores ativos, aqueles que prometem render mais que os outros do mercado e, muitas vezes, com menos risco. Em universal os investidores, a menos quando provocados, não olham para o risco, principalmente diante de uma promessa de altíssimo rendimento.

A informação pode ser enquadrada de formas diferentes com intuito de manipular a percepção do investidor. Uma técnica muito geral é gerar uma lista de produtos em que os indicados sejam comparados com outros piores, em períodos demasiadamente curtos para uma estudo e até com outros que sequer são comparáveis. Neste último caso, por exemplo, confrontar fundos imobiliários com renda fixa.

Para evitar esta cilada o investidor deve primeiro verificar se o resultado oferecido faz sentido para inventar sua carteira. Um portfólio de longo prazo deve ser diversificado para suportar os sobes e desces do mercado sem incorrer em grandes oscilações. O que importa para sua vida não são os ativos, e sim a rentabilidade e o risco do portfólio.

A segunda coisa a fazer é verificar se os fatores de risco que afetam o desempenho do resultado são compatíveis com seu perfil e restrições de fluxo de caixa. Para alguns é muito mais fácil conviver com perdas do que para outros. Além disto, cada um tem suas obrigações para remunerar, não é bom malparar o que não se pode perder nem ter de vender ações com prejuízo para remunerar dívidas.

Se informar, perguntar, buscar conformidade nas respostas e não sentenciar sob pressão evitam muitas perdas. Nunca compre o que não entende.

Em relação ao afeto, nascente é mais difícil de contornar. Ao criarem uma estampa de domínio, alguma coisa porquê uma espécie de Rei Midas dos investimentos, os finfluencers, ao conjugar uma suposta domínio a uma suposta legítima preocupação com nossa vida financeira, emulam uma sensação de afeto positivo, que pode ser traduzido porquê uma atitude, consciente ou não, de boa vontade.

Quando desenvolvemos o afeto positivo em relação a alguém, nossa percepção sobre o que ele diz ou faz se torna indelevelmente influenciada. Por exemplo, em uma recomendação de investimento os benefícios percebidos sobressaem enquanto os riscos são percebidos porquê menores.

Vieses emocionais, porquê o afeto, são mais complexos de serem tratados, para estes, vale a máxima do incumbir desconfiando, sempre.

Além das recomendações sobre se informar e buscar conformidade, costuma funcionar muito buscar opiniões divergentes. Procure nos sites, nas demais mídias e até profissionais que tenham pontos de vista distintos. Esse tirocínio dói, finalmente ele nos impede de terceirizar a decisão, mas se não conseguir passar por ele, melhor deixar seu moeda investido no CDI.

A pior perda é aquela que não conseguimos explicar.

Hudson Bessa – Economista e sócio da HB Escola de Negócios
hudson@hbescoladenegocios.com
www.hbescoladenegocios.com

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Hudson Bessa — Foto: Arte sobre foto/Divulgação

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