94% dos investidores da bolsa perderam para a Selic em 2024. Qual é o sigilo dos outros 6%?
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Em 2024, as carteiras de mais de 94% dos investidores pessoas físicas da bolsa do Brasil perderam para a Selic. Entre janeiro e dezembro do ano pretérito, a taxa básica de juros acumulou uma rentabilidade bruta de quase 10,4%, enquanto a tira de desempenho desse grupo de alocadores variou de ganhos de 8,33%, no melhor cenário, até perdas totais (de 100%).
Os dados são do levantamento da Grana Capital, uma plataforma parceira da B3 no conta do Imposto de Renda (IR) sobre os ganhos na bolsa, com 90.410 investidores pessoas físicas que usam o sistema.
O grupo que ficou detrás do desempenho da Selic corresponde, portanto, a mais de 85 milénio investidores. Mas aqueles que realmente encerraram o ano com prejuízos nas posições de renda variável no Brasil representam um grupo menor.
Na verdade, 74% dos usuários do aplicativo da Grana Capital, ou pouco mais de 67 milénio investidores pessoas físicas fecharam 2024 com perdas na bolsa brasileira.
Performance das carteiras de renda variável de investidores que usam o app Grana Capital
| Número de investidores | Tira de rentabilidade da carteira de renda variável | Performance | |
| 35.264 | -16,7% a -100% | Perderam para Selic e Ibovespa | |
| 50.017 | -8,33% a +8,33% | Perderam para a Selic, mas superaram Ibovespa | |
| 5.129 | +16,7% a +141,7% | Superaram Selic e Ibovespa | |
| TOTAL | 90.410 |
“Acreditamos na tese de que o investidor pessoa física aceita perdas até determinado montante, correspondente ao que ele consegue digerir. Pelo que observamos, esse público tem estômago para entre 10% e 15% de prejuízo nessa carteira, porque, nesse patamar, ainda acredita numa recuperação da posição”, explica João Felipe Guimarães, economista da Grana Capital.
Essa aversão ao risco do investidor individual ganha contexto com o cenário dos juros no país, que está diretamente atrelado à atratividade do mercado de renda fixa.
É um tanto atrelado ao que especialistas do mercado financeiro chamam de custo-oportunidade. Guimarães lembra que mesmo aqueles que investem na bolsa têm porquê referência a rentabilidade dos títulos públicos, os do Tesouro.
“O raciocínio que a pessoa tem é o seguinte: digamos que ela está amargando perdas na posição da renda variável, correndo mais risco nesse tipo de investimento, em um cenário macroeconômico doméstico bagunçado, enquanto os títulos públicos devem entregar entre 12% e 14% de rentabilidade neste ano expondo o investidor ao risco mínimo no mercado financeiro, que é o de o governo não honrar seus compromissos”, acrescenta.
O sigilo dos “vencedores” na bolsa
Exclusivamente 6% desses investidores compraram ações que foram mais atrativas que um investimento no título Tesouro Selic no ano pretérito. Esses pouco mais de 5 milénio usuários do sistema da Grana Capital obtiveram entre 16,7% e 141,7% de ganhos.
É um valor maior se considerar que as projeções de especialistas para a economia em 2024 não se concretizaram. Em integral.
Na verdade, investidores tiveram que velejar mares revoltos nas bolsas com a correção das estimativas para o início do ciclo de galanteio de juros nos Estados Unidos e a reversão do ciclo da política monetária no Brasil, escoltado pela deterioração do quadro fiscal.
Um ponto para entender o sigilo daqueles investidores pessoas físicas que embolsaram lucros polpudos é o vestimenta de que mercado de renda variável no Brasil não é feito só por ações.
- A empresa que controla a bolsa brasileira, a B3, está focada em ampliar a oferta em bolsa, por isso, surgem cada vez mais fundos de índice (ETF, na {sigla} em inglês), fundos imobiliários, Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros), certificados de repositório que representam ativos negociados no exterior (BDR), novos contratos de opções e de criptoativos. Nesse portfólio em expansão, produtos atrelados a ativos estrangeiros e criptomoedas brilharam com retornos expressivos no último ano.
Esses ganhos em outros produtos financeiros que não ações aparecem no desempenho de muitas carteiras acompanhadas pela Grana Capital.
“Outrossim, o investidor do varejo costuma comprar ações de dois tipos de empresas: as de valor, que são as das companhias gigantes na bolsa, que pagam dividendos mas têm potencial de retorno geralmente menor; e as da novidade economia, que são aquelas que podem crescer mais de 30% a 40% ao ano, mas são menos capitalizadas, são as chamadas small caps”, pondera Alexandre Fischer, diretor de produtos da Grana Capital.
Para ele, um grupo menor, de investidores mais novos e aventureiros na bolsa, costumam topar os riscos maiores das ações de small caps, que são mais voláteis, em troca de um potencial de retorno maior.
“Embora a bolsa brasileira não seja focada na tese de tecnologia, e sim mais concentrada em empresas centenárias, estabelecidas e ligadas à economia de base, há algumas pessoas no mercado testando as teses para essas empresas e seus novos modelos de negócio em procura de ganhos maiores. Parece que alguns podem ter estabelecido nas apostas.”
Uma vez que o risco nesses papéis também são maiores, podem ter vindo também dessas empresas menores os prejuízos mais expressivos nessas posições. Entre os ativos na carteira teórica do Ibovespa, a maior perda do ano veio de Azul, com desvalorização subalterno a 78%.
As ações de Magazine Luiza e Cogna aparecem, nesta ordem, porquê a segunda e terceira maiores baixas do índice em 2024, com perdas de quase 70% e 69%.
Já entre as ações do índice de small caps da B3, que acompanha os 121 papéis de menor capitalização na bolsa, somente 25 ativos encerraram 2024 com ganhos.
Entre as maiores perdas do índice de small caps no ano pretérito está a da ação da Gafisa, com queda de 88%. Em indemnização, na ponta das maiores altas, somente a ação da Ambipar avançou 700% em 2024 – a maior valorização entre os ativos do Ibovespa foi de 151%.
Por que ainda há quem invista em renda variável no Brasil?
O que faz uma pessoa se aventurar pela renda variável em vez de escudar seu moeda na renda fixa? Na teoria financeira, a procura por retornos mais altos. Não é o que a bolsa brasileira tem entregue de forma universal.
Das 87 ações mais negociadas da B3, que compunham a carteira teórica do Ibovespa no termo do ano pretérito, 71 se desvalorizaram em 2024.
Assim, o propagação do número de pessoas físicas na bolsa brasileira patina desde 2022. O número de CPFs na B3 gira em torno de 5 milhões nesses dois anos e, depois de esse grupo enxugar pela primeira vez em sete anos em 2023, conseguiu crescer 6% em 2024.
“Há muitas pessoas que terminaram o último ano com a posição na bolsa ‘machucada’, já que a incerteza no cenário econômico é muito elevada. Mas tem uma parcela de investidores que está entrando no mercado de renda variável no Brasil atraída por outras classes de ativos, principalmente pelos fundos imobiliários”, afirma Fischer.
Ele explica que o propagação de classes focadas na distribuição de dividendos – casos dos fundos imobiliários, dos Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros) e de algumas ações – atraiu um público da renda passiva para a bolsa brasileira nos últimos anos.
“Apesar da ‘paulada’ que os fundos imobiliários levaram no último ano, já que o chacoalhão dos juros elevados no mercado impacta o valor das cotas desses fundos, os dividendos continuaram pingando regularmente para o investidor”, acrescenta Fischer.
Guimarães lembra ainda que, apesar de as carteiras não refletirem os ganhos com proventos (leia-se, os dividendos), a tolerância do investidor pessoa física à volatilidade e perdas é muito maior com esses ganhos.
“Com essa dinâmica, fica mais fácil para a pessoa segurar a posição até o cenário para os juros se inverter, e as cotas se recuperarem.”
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