Atrapalha tudo
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Na dezena de 1980, havia um mercantil de uma lâmina de barbear, chamada Atra Plus, que anunciava, através de cortes suaves, uma barba perfeita, proporcionando uma melhor imagem em quem a usasse.
Noutro dia, saiu na prelo um pedido que a empresária Luiza Trajano fez ao presidente do Banco Médio (BC), Gabriel Galípolo. Em evento na Fiesp, ela solicitou que o Copom não subisse mais as taxas de juros, pois, segunda ela, “atrapalha tudo”.
Uma vez que ensino aos meus alunos, existem diversos dilemas de políticas econômicas, conhecidos porquê “trade-off”. Um muito famoso foi aquele sugerido no final da dezena de 1950 pela curva de Phillips, consubstanciado na relação inversa entre serviço e inflação. Para que tenhamos inflação baixa é preciso mais desemprego e vice-versa.
Recentemente, o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, sugeriu o retorno do Teto de Gastos, substituído pelo Tórax Fiscal (2023) do ministro Haddad, para facilitar a política monetária. Para ele, o retorno do protótipo criado no governo Temer auxiliaria no objetivo de trazer a inflação para a meta. Em suas palavras, “o Brasil já tentou vários regimes fiscais, mas o único que permitiu ao Banco Médio buscar a meta de inflação com taxas de juros nominais e reais mais baixas, mais parecidas com o que você tem nos outros países, foi o Teto de Gastos”.
Os que cá me acompanham sabem que fui contra a mudança daquela regra fiscal. Escrevi, algumas vezes, as razões que me levavam a ter um pensamento extremamente similar ao de Mesquita. Confiar que vamos praticar taxas de juros em traço com o que se observa mundo afora, com a política fiscal claudicante que o Brasil pratica atualmente, é pura inocência. Infelizmente, todavia, tenho persuasão que o governo não moverá um milímetro em direção ao retorno do Teto.
Segundo André Lara Resende, em seu livro “Juros, Moeda e Ortodoxia” (2017), a chamada Teoria Fiscal do Nível de Preços revela que a principal âncora da inflação é a fiscal, já que a política monetária tem interferência somente indireta.
Embora não morra de amores por tal teoria, concordo que sem o auxílio fundamental de uma âncora fiscal crível ficamos reféns da monetária. E aí, que me perdoe D. Luiza Trajano, fica difícil que o Copom atenda sua demanda, se for levar a cabo sua tarefa de nos entregar a meta. Por quê?
A inflação, nos modelos neokeynesianos, é explicada por hiatos de produtos, a diferença entre o PIB efetivo e o potencial e expectativas. Se a economia estiver aquecida, trabalhando supra do seu potencial, porquê agora, a tendência é de IPCA fora da meta. Dessa forma, o BC, sem ajuda da componente fiscal, vai precisar agir, via aumento de juros. Não existem alternativas, já que não acredito em teses porquê medidas macroprudenciais, tipo aquelas adotadas no governo Dilma, as quais se mostraram ineficazes!
Outro vista muito relevante é que, com retorno de Donald Trump à Vivenda Branca, a geopolítica está sendo chacoalhada nas últimas semanas. Recomendo a leitura do óptimo cláusula “Trumpulência e redesenho do mundo”, de Marcos Troyjo.
Guerras comerciais, via imposição de tarifas no transacção, soluções de conflitos sem participações diretas de interessados, globalização em xeque, são fatores que podem complicar muito a economia global. Em relação aos emergentes, existem, por secção dele, ameaças aos BRICS, na questão da geração de uma moeda do conjunto em substituição ao uso do dólar no transacção. Não se pode descartar, inclusive, que Trump alegue suposto lawfare por cá e retalie o país economicamente, o que seria mais um fator perturbador.
Para fechar, estamos diante de grandes riscos. Não enxergo condições de se legalizar zero de relevante com o clima beligerante no Congresso, em seguida a denúncia contra Bolsonaro pela PGR. Aliás, vemos a queda de popularidade do governo, captada no Datafolha. Assim, porquê reagirá Lula? Optará por melhorar sua imagem, aumentando os gastos, escanteando de vez o tórax fiscal de Haddad ou ignorará as pesquisas, indo ao Congresso para votar as reformas tão necessárias, sem chances de aprovação? E o Copom? Será Atra Plus (cortes suaves) ou atrapalha (taxa de rendimento para cima)? Façam suas apostas…
Alexandre Espirito Santo, Sócio e Economista-Dirigente da Way Investimentos, coordenador de Economia e Finanças da ESPM
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