O que esperar do Ibovespa com a taxa básica de juros no maior patamar desde 2016?

• Não é à toa que o giro financeiro do Ibovespa está no menor nível desde 2019. Hoje, a movimentação na carteira teórica foi de R$ 18,5 bilhões, somente 13% supra da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,3 bilhões.

Na noite de ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Mediano (BC) confirmou a esperada subida de 1 ponto na Selic. E entregou mais: já sinalizou outro aperto, de menor magnitude, em maio.

Pode até parecer que foi isso que mexeu nos negócios da bolsa nesta quinta-feira (20).

• O Ibovespa cedeu 0,42%, a 131.955 pontos. Mas, nesta semana, a carteira teórica ainda acumula ganhos de quase 2,3%. No mês de março, está com saldo positivo de 7,46%, e, neste ano, de 9,7%.

Mas é justamente na previsibilidade do Copom que está a chave para entender a sessão de hoje na bolsa.

Primeiro, o aperto de ontem já havia sido sinalizado pelo próprio comitê ainda em dezembro. Portanto, era amplamente esperado no mercado. Agentes financeiros também acreditavam que mais ajustes para levar a taxa para mais perto dos 15% ao ano seriam necessários.

Em outras palavras: as altas que levariam a Selic até 14,25% em março já tinham sido incorporadas aos preços dos ativos. Também as altas seguintes já estavam num cenário majoritariamente esperado por investidores.

Mexeu com o mercado de risco hoje o trajo de, diante da confirmação do cenário, os investidores enxergarem uma deixa para realizar seus lucros recentes.

Não significa, portanto, que o movimento de hoje simbolize uma mudança de tendência na bolsa brasileira. De negócio com as análises técnicas, que levam em conta o padrão histórico gráfico do Ibovespa, o índice ainda está em uma janela de subida nos pequeno e médio prazos.

Foram seis pregões consecutivos de subida do Ibovespa até ontem. O dólar estava no menor patamar desde 14 de outubro do ano pretérito, e as taxas nos contratos futuros de juros refletiam qualquer consolação desde meados de janeiro.

Num envolvente extrínseco e doméstico ainda bastante complexos de se velejar, qualquer espaço para embolsar os últimos ganhos será aproveitado. Principalmente porque gestores precisam mostrar seu diferencial para virar o jogo da indústria de fundos.

Enquanto o Copom acertou as expectativas, o Federalista Reserve (Fed, o banco medial dos Estados Unidos) ocupação um tom austero para o cenário econômico americano. Isso abriu uma janela para correção em alguns preços.

• O dólar mercantil subiu 0,5%, a R$ 5,68 hoje. Na semana, a moeda já recuou 1,2%. No mês de março, já desvalorizou quase 4% contra o real e, no ano, acumula perdas de 8,16%.

Embora o Fed tenha reconhecido a desaceleração da economia dos EUA, os tarifaços de Donald Trump podem se tornar barreiras para o resfriamento da inflação. O presidente da mando monetária americana, Jerome Powell, não imprimiu um tom alarmista à coletiva da decisão de manutenção dos juros ontem, mas o recado estava oferecido: as taxas podem até desabar mais duas vezes levante ano, porém o cenário exige cautela.

Por cá, as sinalizações dos bancos centrais e o leilão recorde de Notas do Tesouro Pátrio – série F (NTN-F, que são os títulos prefixados com juros semestrais) ampliaram as correções nas apostas do mercado.

• Assim, a taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 saiu de 14,71% para 14,87% ao ano. Prêmios em contratos de pequeno prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 oscilaram de 14,12% para 14,41% ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa foi de 14,23% para 14,49%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

E daqui para frente, o que será do Ibovespa?

A XP antevê que os juros mais altos punam mais severamente ações dos setores de transportes, propriedades comerciais e o agro neste momento.

Com o encarecimento do dispêndio de capital, por estarem mais endividadas, os lucros das empresas desses setores em 2025 podem suportar queda média de 27,8%, 11,7% e 9,4%, respectivamente, em meio a um cenário de CDI (índice que acompanha de perto a Selic) beirando os 15,5%.

• Das 87 ações que compõem o Ibovespa atualmente, 61 recuaram neste pregão.

Acontece que nem todos os setores serão também impactados pelos apertos na taxa de juros.

Pesos-pesados na carteira teórica do Ibovespa, as empresas de bens de capital, da indústria de óleo, gás e petroquímicos, e de papel e celulose, podem crescer seus lucros de 1,5% levante ano ou fazer com que caiam pouco, 0,2% e 0,9%, nesta ordem.

Tudo muito, não é lá uma informação muito empolgante para o investidor.

Mas a boa notícia é que essas companhias – que são excelentes pagadoras de dividendos – tendem a seguir resilientes neste envolvente de Selic subida (altíssima).

E a XP enumera as razões para isso, é porque essas companhias têm: uma estrutura de dívida não vinculada ao CDI; fazem operações de proteção financeira de forma efetiva e/ou têm secção ou toda a receita dolarizada; têm posição de caixa líquido; e possuem títulos de dívida em moeda estrangeira.

É uma boa notícia para o índice por se tratar justamente do perfil das gigantes do Ibovespa. Ainda por cima, essas ações continuam sendo negociadas a preços e múltiplos muito aquém dos patamares históricos e de pares internacionais.

Ou seja, essas ações podem dar qualquer fôlego para o principal índice do Brasil enquanto o cenário macroeconômico ainda permitir a descompressão do risco no mercado doméstico.

Agora, não é bom exagerar na ração. Uma Selic beirando os 15% ainda exige saudação.

Tanto é que a XP manteve um posicionamento medial defensivo na carteira de ações. “Olhando para frente, o nosso time de economia projeta que o ciclo de contração monetária deve continuar, com uma taxa Selic terminal de 15,5% em junho”, afirma a moradia em relatório.

Para esse cenário, a gestora favorecerá ações robustas e com baixa volatilidade, capacidade de repassar a inflação para seus clientes e baixa alavancagem financeira.

Em outras palavras: o topo da pirâmide do mercado de ações brasílico.

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