Mais Selic ou menos Selic? Eis a (não) questão para a bolsa brasileira

Mesmo que oriente ainda seja o mistério mediano para o mercado brasílico, foi profundamente ignorado por investidores na sessão desta terça-feira (25).

Embora o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Medial (BC) não tenha se comprometido com um termo no ciclo de apertos na taxa básica de juros, o otimismo marcou a sessão de hoje na bolsa brasileira.

• O Ibovespa avançou 0,57% e recuperou os 132 milénio pontos. Durante a sessão, chegou aos 133.471 pontos na máxima, antes de perder o fôlego. No mês de março, está com saldo positivo de 7,55%, e, neste ano, de 9,8%.

O mercado de ações passou incólume pela sinalização mais dura do Copom graças ao fluxo de capital estrangeiro que segue entrando na bolsa. Segundo especialistas do mercado financeiro, as ações domésticas estão sendo negociadas a patamares historicamente baixos, o que se torna o isca do Brasil na avaliação dos países emergentes.

• Das 87 ações que compõem a carteira teórica do índice atualmente, 59 avançaram neste pregão.

Mas a ata do Copom foi ofuscada pelo comportamento pendular de Donald Trump.

O disse-desdisse do presidente dos Estados Unidos provoca alguma oscilação nos mercados, mormente nas bolsas de Novidade York, o que acabou por comprometer a tração na bolsa brasileira.

A tarifação recíproca ampla, que entrará em vigor dia 2 de abril, conforme o republicano sugeriu hoje, poderia ser revista. Trump disse que – talvez, quem sabe, dependendo de seu humor – pode restringir a lista dos bens que serão afetados pela medida. É o contrário do que era esperado até logo.

Esse cenário favoreceria o Brasil por possivelmente reduzir o impacto do tarifaço sobre os produtos exportados aos americanos.

• Assim, o dólar mercantil cedeu 0,75%, a R$ 5,71. No mês de março, já desvalorizou 3,5% contra o real e, no ano, acumula perdas de 7,6%.

Acontece que, poucas horas mais tarde, Trump desdisse o que deu a entender mais cedo. Traduzindo: a medida de 2 de abril seguirá universal e abrangente, acirrando a guerra tarifária global que remete à lesma protecionista que tomou o mundo na dez de 1930.

Com tamanhas incertezas, mesmo que as ações tenham pegado impulso, a liquidez da bolsa seguiu baixa.

• O já o giro financeiro do índice ficou em R$ 14,5 bilhões hoje, inferior da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,3 bilhões – lembrando que a liquidez da bolsa está no menor nível desde 2019.

Mais Selic ou menos Selic?

• A taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 saiu de 15,02% para 15,12% ao ano. Prêmios em contratos de pequeno prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 oscilaram de 14,64% para 14,74% ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa foi de 14,69% para 14,71%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

A decisão do Copom da última quarta-feira indicou mais uma subida na Selic na decisão de maio, só que de menor magnitude. Investidores e gestores apostam, majoritariamente, que esse aperto na taxa será de meio ponto na próxima reunião do comitê.

Para depois, alguns começam a apostar em mais zero. Outros acreditam que o mercado financeiro pode estar subdimensionando o imbróglio da inflação.

A exemplo, o economista-chefe do Goldman Sachs para a América Latina, Alberto Ramos, avalia que a inflação pode ultrapassar a meta do BC ainda em junho e, portanto, o ciclo de aperto monetário continuará no segundo trimestre de 2025, com poucas chances de cortes significativos até o termo do ano.

• Mas o cenário-base no mercado financeiro atualmente é de mais um ajuste de 0,25 ponto na decisão de junho, o que levaria a Selic a 15% ao ano. E acabou.

Nascente é justamente o ponto final que os agentes já viam antes da reunião do Copom em março. Desde a posse de Trump, quando a pressão no cenário extrínseco ficou muito aquém do que era esperado, aliviando a compra de dólares, as projeções para a inflação aterrissaram por cá.

Com isso, o nível em que a Selic encerrará esse ciclo deixa de ser o meio debate, e investidores começam a tentar entender agora qual será o ponto de viradela para a política monetária.

Até quando os juros seguirão tão altos no Brasil? Eis a novidade questão a pulular nas cabeças da Faria Lima e do Leblon.

Veja tudo sobre os balanços e outros indicadores financeiros, além de todas as notícias sobre a empresa, no Valor Empresas 360.