Estrangeiros vêm ao resgate da bolsa brasileira nesta semana. A maré virou de novo?

Não outros senão os próprios gringos. Com a frágil promessa de um ano melhor que o esperado para os mercados emergentes, os investidores estrangeiros estavam voltando para os investimentos do Brasil.

A ponto de injetarem no mercado secundário da nossa bolsa R$ 12 bilhões a mais do que sacaram nessas negociações de ações durante o primeiro trimestre. Do início de abril para cá, a maré virou com a escalada dos embates tarifários encabeçados pelos Estados Unidos e, em 11 pregões do início de abril até o último dia 15, o saldo desse fluxo se transformou em parcos R$ 873 milhões.

Mas sinais na bolsa brasileira nesta quinta-feira (17) indicam que essa maré pode estar virando. De novo.

• O Ibovespa avançou pouco mais de 1% e encerrou a semana encurtada pela Sexta-feira Santa nos 129.650 pontos, no maior nível desde o fechamento de 3 de abril. Nesses últimos quatro dias úteis, o índice acumulou ganhos de 1,54%. Agora, a queda da principal carteira de ações da B3 no mês de abril é de 0,47%. Neste ano, a subida, que já chegou a 10,4%, está em 7,8%.

Com o esfriamento dos ânimos em torno da guerra mercantil entre Estados Unidos e China, investidores passaram a rever os excessos cometidos nos dias de debandada do risco.

E a suspeita de que foram os estrangeiros que resgataram o Ibovespa do negativo nesta sessão recai sobre um ponto de viradela do índice hoje: o horário de buraco das bolsas de Novidade York.

Outra sinalização é o comportamento da carteira: subida generalizada entre os papéis das maiores companhias do país.

• Das 87 ações que fazem secção do Ibovespa atualmente, 70 se valorizaram neste pregão. Na semana, 71 conseguiram proceder.

O destaque de hoje foi a Petrobras, a maior companhia do Brasil, que reagiu à valorização do barril do petróleo Brent (referência global). A subida das ações da petrolífera se deve em secção também à correção dos preços, deprimidos nas últimas sessões.

Agora, incertezas ainda são as inimigas número um dos investimentos de risco. Por isso, correção ou subida não é sempre sinônimo de euforia.

Para proferir que a maré está virando mesmo para o mercado brasiliano, muita coisa ainda precisa intercorrer. Portanto os sinais na bolsa hoje precisam ser lidos e absorvidos com a devida cautela.

O giro da principal carteira de ações do Brasil corrobora a orientação para segurar a empolgação.

• O Ibovespa movimentou R$ 15,3 bilhões hoje, praticamente em traço com a pífia média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,4 bilhões.

Para um dia de vencimento dos contratos de opções de ações, o sinal não inspira otimismo.

Nesses contratos, investidores adquirem o recta de comprar ou vender um ativo por um preço pré-estabelecido e firmado no documento. Ele pode não trenar esse recta, mas, caso sua previsão torne a operação vantajosa – o que acaba acontecendo quando aposta muito contra o consenso do mercado e ganha -, os dias de vencimentos acabam impulsionando a liquidez da bolsa.

Mas não foi muito assim nesta semana. Nos últimos dias, tendo pretérito o pânico nos mercados marginais à guerra tarifária, investidores voltaram ao estado de insensibilidade na renda variável.

O termo do excepcionalismo americano – a tese de que o mercado dos EUA era de tal forma fabuloso que conseguiria controlar a inflação e conviver com juros mais altos sem sacrificar o incremento da sua economia – tem reforçado a tese de que o país caminha para um envolvente de estagflação.

Isto é: com o tarifaço sobre os produtos os chineses e a elevação das taxas sobre importações do México e do Canadá, uma gigantesca fatia do que é consumido nos EUA deve encarecer. Com isso, os americanos perigam proceder para um espaço inflacionário e, com a pressão sobre a produção interna, enfrentar a desaceleração da economia no paralelo.

A falta de atratividade desse cenário (cada vez mais provável) pressiona a moeda americana.

• O dólar mercantil recuou 1% e fechou a sessão em R$ 5,80. Na semana, cedeu 1,14% contra o real. Já no amontoado do mês de abril, a balança está negativa para a moeda brasileira, considerando que a americana já encareceu 1,73% para nós. Neste ano, o saldo é de desvalorização de pouco mais de 6% do dólar.

Agora, zero indica que o Brasil está muito melhor. E isso leva ao xis de toda a questão: a volta dos estrangeiros é mesmo uma mudança de maré?

Zero indica que sim. Por ora, pode se tratar unicamente de entradas pontuais – e pouco significativas – de recursos estrangeiros no mercado brasiliano.

E dois pontos do cenário doméstico reforçam essa visão.

Primeiro, as sinalizações de um cenário fiscal em provável deterioração com os esforços governamentais para recobrar sua popularidade. As medidas tendem a tarar sobre as contas públicas e têm provocados ruídos entre o Planalto e o mercado – porquê a confirmação ontem da reformulação do programa Tarifa Social para oferecer gratuidade para famílias de baixa renda que tiverem consumo mensal de até 80 quilowatts-hora, apesar de o ministro da Herdade, Fernando Haddad, ter refutado a política na última semana.

No termo, a confusão foi desfeita – já que os recursos para a cobertura virão do próprio setor, com rateio entre os consumidores não beneficiados pela medida.

Mas restou a sensação repugnante de escanteamento da equipe econômica no Planalto.

• Assim, a taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 saiu de 14,73% para 14,74% ao ano. Prêmios em contratos de pequeno prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 oscilaram de 14,12% para 14,03% ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa foi de 14,42% para 14,32%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

O segundo e possivelmente mais importante fator neste momento é o impacto que a reordenação do transacção global e seu efeito cascata no mercado brasiliano. Embora o cenário ainda incerto, indumentária é que a provável desaceleração da economia chinesa ou maior concorrência com produtos chineses no mercado extrínseco podem prejudicar o Brasil.

Mas também pode terminar beneficiando. Talvez as exportações brasileiras ganhem mercados, mormente com o rompimento entre China e EUA enquanto o Brasil (um dos maiores produtores de commodities do mundo) permanece neutro na combate.

É isso, ninguém sabe ao patente. Com as duas cartas na mesa, estrangeiros não vão voltar a tomar muito risco fora de moradia antes de ver uma das hipóteses descartada.

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