Investidores do Tesouro Direto perdem mais de 30% em 12 meses, mas cenário pode mudar
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Quem investiu em títulos públicos no prelúdios deste ano, quando os preços estavam supra do atual patamar, precisou resistir à vontade de resgatar o numerário ao ver o investimento valendo um pouco menos a cada dia de disparadas dos juros. Em 12 meses é ainda pior: alguns papéis do Tesouro Direto já acumulam perdas (ou seja, queda dos preços) de mais de 30%.
As taxas e preços dos títulos são inversamente proporcionais. O que significa expressar que, tanto nos papéis prefixados quanto naqueles indexados à inflação, quando a taxa está em trajetória de subida, o preço do papel cai e vice-versa.
Quando as taxas sobem, apesar de ser uma boa notícia para quem vai investir – já que assegura rentabilidade maior, se mantiver a emprego até o vencimento, – o valor de mercado dos papéis diminui, o que implica em perda temporária para quem já possui os títulos na carteira.
Portanto, esses investidores que já tinham títulos comprados e acompanharam as disparadas das taxas nos últimos meses sofreram o desgaste de ver os preços dos papéis em queda.
As perdas para quem já havia comprado títulos a preços maiores no pretérito, em confrontação aos preços atuais (portanto a taxas menores), vêm acontecendo há alguns meses.
Entre os principais títulos do Tesouro Direto, o Tesouro IPCA+ e o Tesouro Prefixado sofrem marcação a mercado, uma atualização diária no preço dos ativos, que depende das condições de mercado naquele momento. Os preços mostram se o investidor ganharia ou perderia numerário ao vender o ativo imediatamente.
Quem acaba cedendo ao resgate antecipado corre o risco de ter aquele prejuízo na carteira. Para prometer a rentabilidade prometida no momento do investimento, só resistindo aos períodos difíceis, uma vez que no último ano, e levando a emprego até o prazo final.
Em 2025, o auge da provação do investidor foi a grande volatilidade em abril, em meio à guerra tarifária protagonizada por China e Estados Unidos. A tensão entre as maiores potências econômicas do mundo mexeu com os títulos do Tesouro americano, respingando nos papéis brasileiros.
Para se ter uma teoria de uma vez que o cenário não ficou favorável para quem já estava dentro do Tesouro Direto, basta olhar para quem comprou o título IPCA+ com vencimento em 2040 no início de fevereiro deste ano. No final do mesmo mês, a perda já passava dos 2%. O jogo só começou a virar agora em maio. Na semana passada, o papel se recuperou, acumulando ganhos de mais de 6%. Ou seja, quem não quis esperar a maré ruim passar e resgatou antes, perdeu numerário.
O mesmo aconteceu para os investidores do Tesouro Prefixado 2028, que no mesmo período perdia 0,27% ao final de fevereiro e agora consegue ver o sinal positivo na carteira.
Se ampliar um pouco mais o cenário é que a situação pode ser desestimulante para os investidores mais sensíveis. Em 12 meses, o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2029, por exemplo, cai 12,88%. Ou seja, as disparadas das taxas desse papel foram tão intensas, que quem já tinha o título na carteira viu os preços caírem firme no reunido do último ano.
Pior ainda para os investidores do Tesouro RendA+ com prazo de conversão a partir de 2065, que têm visto uma perda de 37% do investimento nos últimos 12 meses. Esse título é um dos mais novos lançados pelo Tesouro Vernáculo, e tem o objetivo de complementar a aposentadoria no porvir. Apesar de também estar atrelado à inflação e remunerar uma taxa além do índice de preços, a principal diferença nesse caso é que o investidor não recebe o retorno todo de uma vez, no vencimento, mas em parcelas mensais ao longo de 20 anos.
Preços podem voltar a tombar?
Para Rafael Sobral, economista da Ativa Investimentos, é pouco provável que os juros dos títulos públicos continuem subindo de forma contínua a partir de agora. Segundo ele, “não há motivos para que as taxas de juros reais estejam nos mesmos níveis altos que vimos há dez anos. Poucas vezes vimos esses patamares e não tendem a porfiar muito”.
Ele acrescenta, ainda, que os preços atuais dos títulos pareciam estar sendo influenciados por uma reação exagerada do mercado, junto com um cenário internacional mais difícil, o que pressionou essas taxas para cima.
Atualmente, a percepção de risco fiscal no Brasil — ou seja, o susto de que o governo não consiga manter suas contas equilibradas — está sendo acompanhada de perto pelos agentes, à medida que a taxa básica de juros sobe e a inflação é resistente. Quando isso acontece, o mercado exige um retorno maior, ou seja, quer receber mais para continuar investindo no país. Porquê consequência, os juros pagos pelos títulos públicos também sobem.
No caso dos títulos do Tesouro IPCA+, os juros reais (que já descontam a inflação) chegaram a se aproximar mais dos 8% ao ano. Já no Tesouro Prefixado, que tem uma taxa fixa, os juros alcançaram os 15% em 2025, fazendo com que os preços dos ativos caíssem e o investidor que já tinha aplicado numerário notasse uma perda na carteira. Esses níveis de taxa não eram vistos desde o final do ano pretérito.
Em relatório divulgado neste mês, o banco Itaú BBA chamou a atenção para um risco adiante: de o governo não provar segurança para lastrar suas contas públicas. Se isso ocorrer por muito mais tempo, o mercado pode continuar esperando que a taxa Selic suba ainda mais neste ano. Atualmente, a taxa básica de juros da economia está em 14,75% ao ano.
Essa expectativa pode gerar uma novidade vaga de desvalorização no mercado, principalmente nos preços dos títulos públicos. Essa estudo foi feita pelo técnico em renda fixa para pessoas físicas do Itaú BBA, Diego Queiroz.
Sobral acredita que os juros vão tombar ao longo do tempo. Por isso, ele recomenda que o investidor segure os títulos públicos por pelo menos mais dois anos, ou até mesmo aumente a posição — ou seja, compre mais.
Na primeira opção, a teoria é simples: esperar que os juros dos títulos do Tesouro IPCA+ e do Tesouro Prefixado diminuam nesse período. Quando os juros caem, o valor dos títulos sobe. Isso significa que quem segurar os papéis poderá vender mais tarde com lucro, caso não queira levar até o vencimento.
“Acreditamos que o investidor com um horizonte de tempo de pelo menos dois anos terá retornos maiores nos títulos Tesouro IPCA+ do que nos títulos do Tesouro Selic”.
Para quem quer aproveitar que os juros ainda estão altos, mas também acredita que eles vão tombar nos próximos meses, ainda dá tempo de comprar mais títulos. Os analistas têm recomendado cautela com os títulos do Tesouro Prefixado. Já os títulos do Tesouro IPCA+ com vencimentos de prazos médios (entre dois e cinco anos), podem ajudar a proteger a carteira contra os efeitos da inflação. Em todo caso, o ideal é sempre levar o investimento até o prazo final.
Para aqueles que estão com prejuízo na carteira e mesmo assim preferem vender os papéis antes da data de vencimento, vai ser preciso admitir a perda. Isso acontece porque, ao vender o título antes do prazo, ele provavelmente valerá menos do que o valor contratado inicialmente e que só será verosímil obter integralmente no prazo final do papel.
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