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A normalização do erro não o faz virar acerto

A normalização do erro não o faz virar acerto

A normalização do erro não o faz virar acerto

A normalização do erro não o faz virar acerto

Português era a minha material preferida na escola. Curtia essa coisa de estudar a gramática, apesar de seu desdobramento infinito e de difícil memorização. Mas a língua portuguesa é ingrata. Até mesmo para nós, nativos, falar um bom e correto português nem sempre é uma tarefa fácil. Nenhum de nós fala um português 100%.

Sempre cometemos um deslize em alguma concordância, usamos palavras com sotaque duvidosa, mas entendível ou erramos mal-parecido mesmo. Até para os mais estudiosos os erros são inevitáveis. Eles são proporcionais à riqueza da nossa língua. Alguns deles fazem secção do dia a dia, do cotidiano. Mas quando cometidos com frequência, comprometem a integridade de quem os comete e, muitas vezes, deixam sequelas na reputação. Uma vez que já deve ter percebido, essa é a conformidade do dia: os erros do português e os erros financeiros têm muito em generalidade.

Ambos nascem de hábitos, se perpetuam por falta de atenção e, se não forem revistos, acabam cobrando um preço. A inspiração veio depois de ler um glosa em uma rede social: “Agente precisa forrar mais esse mês, né?”. Entendo que os tempos atuais favorecem a velocidade, as abreviações e uma certa flexibilidade no uso da linguagem. Mas ainda assim, erro é erro. Nas finanças, às vezes é o pormenor pequeno que pode comprometer o todo.

Alguns deslizes do português parecem inofensivos, porquê o “agente precisa”, por exemplo. Uma troca sutil entre “agente” e “a gente” altera completamente o sentido e expõe certa distração com quem está no comando da frase. No numerário, uma pequena colocação fora do lugar compromete o sentido e o objetivo.

Há ainda o uso de palavras inexistentes, porquê “seje” ou “esteje”. Palavras inventadas muitas vezes aparecem travestidas de sofisticação. São erros disfarçados de saber, que convencem os mais desatentos. O paralelo com alguns produtos financeiros é inevitável: nomes técnicos, termos dialéticos, promessas elegantes, mas pouco realistas. Nem tudo que soa multíplice é inteligente ou adequado para você.

O que manifestar das ênfases? Elas revelam mais instabilidade do que fé. O “com certeza absoluta” é o vencedor. Nas finanças, promessas enfáticas soam semelhantes. Quem precisa exagerar na certeza talvez esteja tentando ocultar o que não pode prometer.

Outra categoria que vale destaque são os vícios de linguagem que se escondem detrás da ênfase, mas são só redundância. Expressões porquê “subir para cima”, “gavinha de relação”, “ver com os próprios olhos” ou “planejar previamente” são tão comuns que já passam despercebidos. O excesso não fortalece, unicamente repete. No mundo financeiro, acontece o mesmo. Frases porquê “rentabilidade garantida sem risco” ou “suplente de emergência para imprevistos” parecem fazer sentido, mas são mais soído do que orientação e inverdades em boa secção das vezes. Os que dizem demais, por vezes comunicam de menos e não faz nunca o erro virar acerto.

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Ana Leoni — Foto: Arte/Valor

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