Balanço do primeiro semestre: novas instabilidades globais e velhos desafios locais
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Durante o primeiro semestre de 2025, houve a retomada das políticas protecionistas por segmento dos Estados Unidos, com aumentos relevantes de tarifas sobre produtos importados, principalmente da China, União Europeia e México. Esse aumento significativo de tarifas e suas idas e vindas reacenderam tensões comerciais globais.
Os aumentos, que começaram de forma mais nivelado, foram sendo modulados também para diferentes setores, alavancando tarifas em casos uma vez que aço, alumínio e alguns setores manufatureiros mais específicos e, de outro lado, aliviando outros segmentos, uma vez que de alguns componentes eletrônicos sensíveis para produção lugar. O efeito universal da subida de tarifas começa a se fazer sentir sob a forma de aumento de custos em algumas cadeias produtivas e repasses graduais para os preços finais nos Estados Unidos, com maior inflação e pressão continuada sobre as taxas de juros locais.
Do outro lado da moeda, as exportações chinesas se viram prejudicadas em diversas frentes, com queda nas vendas externas, redução de pedidos, aumentos de estoque e urgência de que muitos setores busquem novos mercados, seja localmente, seja para redirecionamento das exportações que antes iam para os Estados Unidos.
Os produtos redirecionados para outros países tendem a ser comercializados com descontos e gerar uma contrapartida de pressão baixista de preços de curtíssimo prazo, desafiando eventuais produtores locais para esse novo envolvente competitivo, até que o ciclo de estoques se ajuste à novidade verdade tarifária.
Outrossim, o governo chinês reagiu com incentivos de crédito e juros para estimular mais a demanda lugar, de forma a gratificar parcialmente a perda de mercados externos para alguns de seus produtos, e acelerou o financiamento para projetos estruturantes e de larga graduação nos campos de transição energética, novas tecnologias de ponta, uma vez que uso espaçoso de lucidez sintético, e transporte e logística.
Já na União Europeia, setores exportadores, uma vez que o automobilístico e o agrícola, foram os mais atingidos, prejudicando economias com maior peso das exportações, uma vez que os casos da Alemanha e da França. Porquê consequência dos efeitos econômicos já sentidos, as tensões diplomáticas se intensificaram, com retaliações e ameaças crescentes de lado a lado, elevando o risco de uma guerra mercantil ampliada e mais duradoura.
Todo esse envolvente aumenta as incertezas empresariais e dificulta muito que decisões estratégicas, de investimentos de mais longo prazo, sejam tomadas, com veto de fluxos de capitais e retração dos investimentos diretos mundo afora. A maior aversão a atividades fora de fronteiras seguras e estratégicas para cada negócio tende a levar a um lento processo de desglobalização das atividades empresariais.
Para os mercados emergentes, os efeitos secundários desse envolvente tarifário mais instável são ambíguos. De um lado, aumenta a incerteza universal, com potencial impacto negativo sobre fluxos de capitais e investimentos diretos, o que é ruim para países com déficits em conta manante, que necessitam de financiamento internacional para lastrar suas contas externas, implicando maior risco de volatilidade cambial, de inflação e juros.
De outro lado, de forma mais individualizada, abre-se espaço para um reposicionamento estratégico de algumas atividades, uma vez que forma de substituir ou complementar a oferta de setores nos quais a guerra tarifária se intensificou, ou para que haja aumento da suspicácia sobre provedores de insumos importantes vindos de outros países.
Porquê exemplos, no caso do Brasil, podemos redirecionar, para a China, segmento da exportação de soja e mesocarpo destinada aos Estados Unidos, ou sermos manadeira de minerais e de terras raras mais confiáveis do que outros países produtores, abrindo algumas oportunidades setoriais para serem exploradas.
Em paralelo ao embate tarifário, crescem as tensões geopolíticas globais, com a eclosão recente da Guerra Israel x Irã, em soma aos conflitos já existentes entre Israel x Hammas e Rússia x Ucrânia.
A guerra tem potencial de ampliar muito a instabilidade geopolítica no Oriente Médio, região estratégica para a produção e exportação de petróleo para todo o mundo, elevando os riscos para a economia global. O via de contágio mais direto se dá via pressão do preço do resultado.
Alguns relatórios recentes estimam que os preços podem subir mais 30% e se aproximar de US$ 100 o barril, em casos mais extremos de interrupções no fornecimento, principalmente com ameaças de fechamento do Estreito de Ormuz, por onde são transportados muro de 20% do petróleo mundial.
O impacto é de subida imediata nos custos em diversos setores mais diretamente afetados pelo uso do resultado e seus derivados, tais uma vez que companhias aéreas, transporte marítimo, química, petroquímica, embalagens e combustíveis para a população em universal.
Quanto mais prolongada a guerra e seus efeitos sobre o petróleo, maior a chance de que essas pressões de custos se espalhem de forma mais ampla e duradoura para os preços, resultando em altas da inflação e de juros mundo afora. Hoje, embora a economia global dependa menos do petróleo do que há algumas décadas, com outras fontes de pujança ganhando peso ao longo do tempo, ainda há uma grande relevância dessa manadeira energética para a engrenagem mundial.
Já no Brasil, os desafios do primeiro semestre não são novos e estão mais circunscritos a temas amplamente mapeados. A inflação permanece em nível proeminente e supra das metas estabelecidas pelo Banco Mediano, com aceleração nos provisões, puxada por algumas culturas com problemas de safra, nos combustíveis, agora afetados pelo novo choque de petróleo decorrente da guerra Israel x Irã, e pujança, por questões climáticas. Em paralelo, a inflação elevada de serviços tem se mostrado mais persistente, refletindo o aquecimento do mercado de trabalho e a demanda resiliente por serviços presenciais de instrução, saúde e turismo.
Todos esses fatores fazem com que a inflação (IPCA, índice de referência do Banco Mediano) esteja em 5,32% nos últimos 12 meses, supra do núcleo da meta (3,0%) e do topo da orquestra (4,5%). Esse cenário de inflação persistentemente supra das metas do Banco Mediano levou a altas sucessivas das taxas de juros neste primeiro semestre, conseguido o nível de 15,0% ao ano, na última reunião do Copom de junho. Com esse nível de juros e de inflação, as condições de crédito devem permanecer mais restritivas e o consumo tende a perder dinamismo ao longo dos próximos trimestres.
Entretanto, há outras forças além da política monetária (taxas de juros e medidas prudenciais) que estão contrapondo segmento do freio que vem dos juros altos. Uma diz saudação à política fiscal, com contínuo aumento de gastos públicos, em pessoal em rubricas que sensibilizam diretamente a população que tem mais propensão a consumir, dando sustentação suplementar à demanda.
Outra manadeira de sustentação da demanda vem dos programas de investimentos estruturantes dos setores privado e público decididos anos detrás, mas que têm rabo longa de investimento, uma vez que em saneamento e pujança, por exemplo.
Por termo, antes das medidas recentemente anunciadas, uma vez que o decreto com ajustes de IOF e a Medida Provisória que proporá alguns ajustes de impostos, o mercado de capitais estava altamente demandante de ativos de crédito privado que lastreavam operações em setores importantes, uma vez que construção social, agropecuário e infraestrutura, entre outros.
Esse movimento, de certa forma, mitigava o repasse da subida de juros para atividades empresariais, mantendo uma sustentação para atividades produtivas intensas em capital e que empregam grande volume de pessoas. Assim, era uma manadeira suplementar de sustentação de demanda que, à luz das recentes medidas discutidas por governo e congresso, pode perder um pouco de ímpeto, com o aumento da incerteza sobre as condições que vigorarão no porvir.
Por termo, e não menos importante, permanece o duelo da estabilização da dívida pública. Apesar de esforços permanentes para contenção de um ou outro gasto e ajustes para aumento de arrecadação, as medidas, em seu conjunto, continuam insuficientes para contrabalançar altas em algumas despesas obrigatórias e a própria fardo crescente dos juros da dívida, projetando ininterrupção da trajetória de elevação da relação dívida/PIB nos próximos anos, sem vislumbrarmos um horizonte de estabilização. Essa dinâmica fica agravada pelo nível já proeminente da dívida bruta, ao volta de 80% do PIB, o que normalmente é associado a baixa margem de manobra e eminente dispêndio econômico de eventuais deslizes na transporte fiscal.
Nesse contexto, seria muito importante nos próximos anos desenharmos um novo tórax de regras fiscais, seja do lado dos gastos, seja do lado das receitas, que trouxessem a percepção de sustentabilidade de longo prazo, com eventuais gatilhos e parâmetros preestabelecidos para ajustes imediatos, de preferência horizontais, de forma a evitar conflitos distributivos cuja discussão sempre acaba por provocar um efeito paralisante nas decisões econômicas.
Um dia teremos que fazer essa discussão mais profunda, e estamos cada vez mais próximos desse momento. Que o façamos com serenidade e desapego de interesses individuais, para o muito do país.
Estevão Scripilliti é diretor da Bradesco Vida e Previdência.
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