Brasílio está vivendo mais e isso deve mexer com a bolsa, segundo Santander; entenda
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O impacto do envelhecimento depressa da população na América Latina antes que a região atinja níveis de riqueza mais altos deve promover impactos no PIB per capita, produtividade, nos rendimentos da população idosa e na própria bolsa brasileira, segundo um relatório do Santander. Com isso, o cenário doméstico do mercado de capitais deve passar por um mata-mata, com setores que se darão melhor no contexto de transição demográfica.
Por que isso importa para o investidor?
Esse envelhecimento populacional ainda não é um problema para a bolsa brasileira. No entanto, isso pode mudar e deve moldar a alocação dos investidores que pensam no longo prazo, movimento que já é percebido em fundos de private equity (investimento em empresas privadas, não listadas na bolsa), diz Maria Paula Cantusio, dirigente de estudo ESG e relatórios temáticos do Santander.
“O investidor que olha para longo prazo vai olhar para isso. Temos visto muitos fundos de private equity, por exemplo, investindo em tecnologia focada em saúde há anos, já olhando essa tendência de envelhecimento da população global. A gente fala que os mercados emergentes estão envelhecendo mais rápido e a população vai principiar a reduzir primeiro nos desenvolvidos e depois nos países emergentes”, diz ela.
Cantusio detalha que cada região do mundo contribui de forma dissemelhante para o consumo global e que esse aumento populacional está moldando também o movimento do mercado consumidor, com um deslocamento de países desenvolvidos para países em desenvolvimento.
“A América do Setentrião contribuía com 26% do consumo global em 1997, isso reduziu para 22% em 2023 e em 2050 vai reduzir para 17%. Agora, a secção emergente da Ásia — que não inclui China — sai de 7% em 1997 para 15% do mercado global de consumo porque tem uma população crescendo de forma exponencial ali”
Porquê exemplo, ela cita um empresário que está abrindo uma fábrica de pão na Alemanha, país que vai reduzir de tamanho mais rápido do que no continente africano. “Onde você [empresário] vai determinar perfurar mais lojas? Vai ser na África porque a tendência de prolongamento no longo prazo é maior”, explica.
Impactos econômicos do envelhecimento populacional
Segundo o relatório, o envelhecimento populacional impacta econômicamente diversas áreas, porquê previdência, sistemas de saúde e trabalho.
No PIB per capita, por exemplo, secção do efeito é compensado pelo chamado “dividendo demográfico”, que ocorre quando a população de um país tem uma grande proporção de pessoas em idade ativa em relação aos dependentes (crianças e idosos), criando potencial para prolongamento econômico depressa, maior poupança e aumento do capital humano. Porém, para aproveitar o dividendo demográfico, são necessários investimentos estratégicos em instrução, saúde e tarefa.
Mas, enquanto o “mundo desenvolvido” apresentou uma queda nas taxas de fertilidade de forma um pouco mais lenta, ao mesmo tempo em que conseguiu aproveitar melhor o período em que possuía um percentual saliente de população economicamente ativa, A América Latina não fez o mesmo. O problema, diz ela, é que “o tempo está se esgotando” para que a região “chegue no mesmo nível de renda ou próximo do mesmo nível de renda de países desenvolvidos“.
“A América Latina poderia ter tirado mais proveito de épocas em que essa população em idade ativa e trabalhando ativamente — contribuindo pra economia — para poder ter aumentado tanto o nível de poupança das economias, quanto de investimentos e também de produtividade do trabalho. Isso não foi feito da mesma maneira que foi feito em economias desenvolvidas. O que acontece é que a verosimilhança de chegarmos em um nível de renda per capta que seja próximo de países e economias desenvolvidas, é muito plebeu hoje”, detalha Cantusio.
Esse envelhecimento também afeta significativamente os sistemas de pensão (previdência porquê um todo) e saúde.
Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) usados no estudo mostram que, na América Latina, transferências públicas (seguridade paga quando o beneficiário não contribuiu, mas se aposentou, seja por vetustez ou doença, por exemplo) ou privadas (quando houve tributo) representam 57% e 7% (64% no totalidade) da renda de pessoas supra de 65 anos, seguidas pelo trabalho, com 26%, e pelo capital, com 10%.
Essa sujeição de transferências públicas ou privadas varia de 91,5% na Noruega a 34,3% no Canadá. Entre os países da região, o Brasil é aquele em que os idosos mais dependem de transferências públicas e privadas (71,2%), seguido por Chile (59,6%) e México (51,6%).
Para se ter teoria, entre 2000 e 2020, a porcentagem de pessoas supra de 65 anos recebendo aposentadoria passou de 46% para 69%. No entanto, exclusivamente 42% dos trabalhadores da América Latina — e menos de 30% da população em idade ativa — contribuem para o sistema, segundo o relatório.
Dentre os problemas apontados para oriente cenário, o estudo descreve que a maioria dos sistemas de pensão oferecem benefícios baixos na América Latina, equivalentes a 42% do valor dos salários, em média, com grande variação entre países. Os maiores valores estão em El Salvador, Paraguai, Colômbia, Uruguai e Brasil, onde as pensões representam mais de 50% dos salários médios, enquanto no Chile, Peru e Bolívia representam menos de 30%.
“Em média, na América Latina, se você se aposenta ganhando R$10 milénio, quando passa a receber o mercê, o valor cai para R$ 4 milénio. Aperda de poder aquisitivo é grande depois que uma pessoa aposenta, portanto o idoso vai ter menos numerário livre para poder gastar“, detalha a dirigente do Santander.
E enquanto alguns países indexam benefícios previdenciários ao prolongamento salarial médio, outros indexam aquém desse patamar, fazendo com que os idosos percam poder de compra ao longo do tempo. Mulheres, que geralmente recebem salários médios menores que os homens e vivem mais tempo, sofrem um impacto ainda maior na renda média em seguida os 65 anos.
Ou por outra, em meio à queda nas taxas de fertilidade na América Latina (que saíram de tapume de 6 em 1955 para 1,8 em 2023), ao mesmo tempo, a expectativa de vida ao nascer aumentou de tapume de 52 anos em 1955 para 75 em 2023, podendo chegar a 80 até 2045, segundo previsões da ONU.
As seis maiores economias da região — Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru — apresentam taxas de fertilidade aquém de 2, o que é considerado também aquém da taxa de reposição de 2,1, que é o número de filhos necessários por mulher para substituir seus pais e manter a segurança populacional.
De negócio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a América Latina é a que mais envelhece rapidamente no mundo. Enquanto na Europa levou 56 anos para que a população supra de 65 anos passasse de 10% para 20% do totalidade, a mesma transição deve ocorrer em menos da metade do tempo (29 anos) na região.
Segundo Cantusio, para que os países latino-americanos enriqueçam antes de envelhecer — acelerem o desenvolvimento e reduzam a diferença com países desenvolvidos —, a região precisa aumentar a inclusão de trabalhadores no mercado, além de focar em políticas para sustar prolongamento de gastos sociais e aumentar a produtividade. Para o banco, aumentar a produtividade pode ser feito “incluindo mais pessoas em idade ativa e mulheres no mercado de trabalho, aumentando horas médias trabalhadas, incentivando a extensão da aposentadoria, promovendo hábitos saudáveis, entre outras iniciativas”.
Quem deve lucrar o mata-mata?
Em um cenário de rápido envelhecimento populacional na região, incluindo no Brasil, mas com perda de poder de compra, os investidores que miram o longo prazo devem colocar a taxa da longevidade na hora de escolher os papéis que compõem o portfólio.
Segundo o relatório, que toma porquê base um estudo de 2023 da McKinsey, que analisou dados da China, Alemanha, Japão e EUA, países que já estão vivenciando um envelhecimento populacional, à medida que as pessoas ultrapassam os 65 anos, elas gastam mais com cuidados de saúde, mantimentos para consumo doméstico, equipamentos domésticos, habitação e serviços públicos.
Por outro lado, caem os gastos com instrução, vestuário e calçados, restaurantes e hotéis, álcool e transporte, enquanto os gastos com serviços de informação e atividades recreativas e culturais permanecem relativamente estáveis.
“Normalmente nessa filete de idade a pessoa já não tem outros tipos de gasto, porquê bancar a escola para filhos, portanto não é uma secção tão grande da renda dele que está comprometida. Mas, no final das contas, o poder aquisitivo do idoso reduz e os gastos dele, fora os gastos que ele consegue trinchar, aumentam. Ele [o idoso] vai ter mais gasto com medicamento, com manutenção de vivenda. Imagina que a pessoa não sai para trabalhar, a conta de vigor e de chuva vai ser mais subida”, detalha a dirigente do Santander.
Com esse aumento de gasto em necessidades básicas, caso os idosos na América Latina, incluindo os do Brasil, se comportem de forma similar ao dos países do estudo da McKinsey, o efeito seria positivo para:
- Supermercados — porquê Assaí Atacadista (ASAI3); Grupo Mateus (GMAT3) e Grupo Pão de Açúcar (GPA; PCAR3); e nos outros países da América Latina Cencosud, Chedraui, Tiendas 3B e Walmex;
- Empresas focadas na venda de equipamentos domésticos, porquê Magazine Luiza (MGLU3) no Brasil e El Puerto de Liverpool, Falabella, Mercado Livre e Walmex nos países vizinhos;
- Força e serviços públicos em universal — inclui toda a cadeira de vigor (transmissoras, distribuidoras, etc.); companhias de chuva e afins.
- Construtoras em universal, refletindo um basta déficit habitacional na região e uma mudança na demanda do mercado imobiliário de imóveis menores para maiores, e vice-versa;
Por outro lado, o efeito seria negativo para:
- Setor educacional — Anima (ANIM3), Cogna (COGN3) e YDUQS (YDUQ3);
- Vestuário — Azzas 2154 (AZZA3), C&A (CEAB3), Guararapes e Lojas Renner (LREN3) no Brasil e El Puerto de Liverpool, Falabella nos outros países da América Latina;
- Bebidas — Ambev (ABEV3) e Becle;
- Restaurantes, hotéis e transportes, porquê Alsea, Arcos Dorados, CVC (CVCB3) e Latam Airlines.
Segundo o relatório, populações mais velhas apresentam vários desafios em termos de aumento da mortalidade e morbidade devido a condições crônicas e degenerativas. Por outro lado, existem lacunas nos sistemas de saúde da América Latina que oferecem espaço para expansão e consolidação do setor à medida que a população envelhece.
Porquê exemplo, o estudo cita dados de países selecionados da OCDE que mostram que pessoas supra de 65 anos gastam quatro vezes mais com despesas relacionadas à saúde do que em outros períodos da vida.
Porém, no caso de operadoras de saúde, porquê hospitais e planos, o impacto deve ser misto: positivo devido a maiores taxas de ocupação hospitalar, mas negativo devido ao maior uso de planos de saúde e taxas de sinistralidade médica. Esse é o caso, por exemplo, da Hapvida (HAPV3) em que o braço de planos de saúde é mais representativo nos resultados da companhia e pode promover um impacto negativo para os números.
Entre as empresas de saúde sob a cobertura do Santander que poderiam se beneficiar de uma população envelhecida na América Latina, os destaques são para as que atuam:
- Focadas em hospitais — por exemplo, Rede D’or (RDOR3);
- Farmacêuticas — porquê Hypera (HYPE3);
- Drogarias — RD Saúde (RADL3) e Pague Menos (PGMN3);
- Segmento de diagnóstico — Fleury (FLRY3);
- Empresas focadas no tratamento de doenças crônicas — Oncoclínicas (ONCO3);
- Academias — Smart fit (SMFT3), considerando a crescente preocupação da população com prevenção de doenças e bem-estar.
Embora o cenário de envelhecimento já esteja no projecto de longo prazo de empresas globalizadas, Cantusio pontua que companhias brasileiras da bolsa também já estão redesenhando os negócios, focando nas oportunidades que a longevidade trará, o que pode afetar também quem se sairá muito nesse porvir próximo.
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