Cada juízo é um juízo
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“Os conselhos de governo estão mesmo considerando a agenda ESG na sua tomada de decisão?”; “Os assuntos relacionados a capital humano são tarifa ordenado nos conselhos?”. Recebo frequentemente perguntas porquê essas e entendo a curiosidade. Finalmente, o juízo de governo é o mais basta nível da governança corporativa, responsável pelos rumos estratégicos da empresa.
Atuo em CAs desde 2020 e a minha resposta a essas indagações sempre é a mesma: “Cada juízo é um juízo“. Não existe um colegiado igual a outro, por variados fatores, entre eles: cultura, histórico e trajetória da empresa, estilo das lideranças e dos times, formação acionária, perfis dos membros etc.
Um dos meus focos ao vir para oriente lado do balcão corporativo foi aguçar minha reparo, minha “leitura de cenários”, porquê sabor de expressar. Qual a dinâmica desse juízo? Quais os signos e símbolos não ditos da cultura? O que faz os ouvidos do/a presidente nos escutarem verdadeiramente? O que pulsa mais potente naquelas pessoas e, consequentemente, terá mais chance de entrar na tarifa nas reuniões? Onde e porquê posso reunir, provocar, propor, estimular?
Ter essas respostas, ainda que incompletas ou imprecisas, tem me ajudado nesse xadrez. O que flui facilmente em um grupo, por exemplo, precisa ser muito articulado em outro. No mundo dos conselhos, o famoso “one size fits all” definitivamente não funciona.
Abro cá um parênteses, ou melhor, um parágrafo inteiro, para render minhas homenagens a um elemento que é definidor nesse contexto: a secretaria de governança. Os conselhos em que atuo contam com profissionais altamente capacitados mas, principalmente, com perfil para essa ocupação, que não é simples, pois requer jogo de cintura, sensibilidade, discrição, facilidade, perspicácia, gentileza… Meu muito obrigada aos governance officers que me apoiam tanto no dia a dia.
Disposto o cerne da minha reflexão – a particularidade de cada juízo –, entendo, por outro lado, que temos que tentar buscar respostas gerais para as questões que abrem o cláusula. E nisso as pesquisas são boas aliadas. Elas não resolvem tudo, por fim, têm alcance restringido devido ao perfil da modelo e momento da apuração, entre outros fatores, mas ajudam.
No tocante à incerteza se a agenda ESG está sendo priorizada nos conselhos, recorro à publicação “Board Scorecard: a atuação dos conselhos frente aos impactos climáticos e à estratégia net zero”, recém-lançada pelo Chapter Zero do IBGC. Esta terceira edição ouviu 90 pessoas, entre conselheiros/as, CEOs e executivos/as. Destaco duas perguntas:
1.“O juízo entende as implicações das mudanças climáticas?”
- 75,6% concordaram totalmente ou concordaram
- 11,1% foram neutros
- 13,3% discordaram ou discordaram totalmente
2.“O tema ‘mudanças climáticas’ é contemplado em no mínimo quatro reuniões do juízo ao ano, tendo objetivos claros e informações robustas para a discussão?”
- 37,8% concordaram totalmente ou concordaram
- 20% foram neutros
- 42,2% discordaram ou discordaram totalmente
Fiquei matutando nesses resultados. Se 75,6% disseram que o juízo entende as implicações das mudanças climáticas, porquê exclusivamente 37,8% afirmaram que o tópico é contemplado em no mínimo quatro reuniões ao ano? Parece contraditório. Se você compreende a valimento de alguma coisa, trará para a prioridade. Talvez seja a concorrência com outros assuntos. Enfim… são exclusivamente assunções. Meu eterno viés de ver o lado meio referto do copo me deixa feliz ao constatar que há conscientização sobre a relevância dessa temática.
Para endereçar a segunda pergunta, se “Os assuntos relacionados a capital humano são tarifa ordenado nos conselhos?”, trago o “2025 Annual Corporate Directors Survey”, da PwC. Uma das questões é:
“Nos últimos dozes meses, com qual frequência seu Board discutiu os seguintes temas?”. Era apresentada uma lista com nove e “Gestão de Talentos” veio em primeiro lugar, com as seguintes mensurações, que indicam um cenário animador:
- 72%: em toda reunião
- 20%: duas vezes
- 6%: uma vez
- 2%: nunca
Todo início de ano, consulto estudos que sinalizam tendências para os conselhos no período que começa. Esse teor se torna nascente de referência para minhas palestras, aulas, artigos. Farei isso em breve. Mas, convenhamos, o mundo não muda tão rápido assim. Portanto, fazendo um manobra de futurologia, encerro com a “Pesquisa de Tendências e Prioridades 2025” da NACD – National Association of Corporate Directors, dos Estados Unidos. Os dez temas mapeados, com maior ou menor ênfase em um ou outro, certamente permearão nosso 2026. A eles, evidente, devemos aumentar o ano eleitoral e outras particularidades locais. Veja quais são essas tendências e Feliz Ano Novo (novo?) nos conselhos!
- 51% Mudanças nas condições econômicas
- 46% Requisitos regulatórios
- 41% Ameaças de segurança cibernética
- 37% Competição por talentos
- 31% Volatilidade geopolítica
- 30% Lucidez Sintético
- 29% Crescentes disrupções nos modelos de negócios
- 28% Inflação
- 27% Mudanças tecnológicas
- 27% Disrupções nas cadeias de fornecimento
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Sonia Consiglio é SDG Pioneer pelo Pacto Global da ONU e perito em Sustentabilidade.
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