Crédito de empresas de médio porte atinge nível mais grave em três anos

A crédito do empresário brasílio de médio porte recuou 4,3 pontos no primeiro semestre deste ano na confrontação com o segundo semestre de 2024 e marcou 44,4 pontos, menor patamar em três anos. Os dados são do Índice de Crédito das Médias Empresas (ICME), da Instauração Dom Cabral (FDC), cuja pontuação inferior de 50 pontos, em uma graduação até 100, indica falta de crédito.

O resultado, o menor desde o primeiro semestre de 2022, quando a série histórica da ICME teve início, foi puxado por quedas nos dois componentes do indicador. O que avalia expectativas futuras caiu mais, 5,1 pontos, e marcou 46,5 pontos, enquanto o que avalia condições atuais recuou 3,4 pontos e chegou a 42,3 pontos.

De convénio com Áurea Ribeiro, professora da FDC, a queda, tanto na avaliação atual quanto na futura, está ligada à “percepção de piora no envolvente econômico e social, e à percepção de crescente elevação dos custos dos negócios, impactados pela inflação e pelo dispêndio dos insumos.”

Na estudo dos setores, os três analisados tiveram queda de crédito, mas indústria e transacção tiveram os maiores recuos, de 5,3 e 4 pontos, respectivamente. A crédito do setor de serviços, embora tenha recuado 3,3 pontos, permaneceu superior à dos demais.

O indicador mostra ainda que médias empresas projetam agora investir 3,92% do faturamento bruto anual nos negócios, menos do que os 4,6% do segundo semestre de 2024. O setor de serviços é o único que mantém tendência de subida nos aportes, com previsão de investir 5,12% do faturamento — supra dos 5,07% observados no semestre anterior.

O desempenho do transacção e da indústria, tanto em crédito quanto em previsão de investimento, diz Ribeiro, pode ser explicado por estes serem segmentos mais sensíveis à inflação e a juros, levante último atualmente com taxa básica de 14,25% ao ano no país. “O setor de serviço, ou seja, o restaurante, o cabeleireiro, o salão, entre outros, é um mercado mais maleável, que consegue se harmonizar melhor com menos investimento.”

Segundo a instauração, o ritmo de contratação das empresas de médio porte também apresenta desaceleração, embora ainda mostre progressão relevante. Para 2025, a expectativa é de propagação de 3,3% nos postos de trabalho, inferior dos 4,9% de 2024.

Apesar do recuo da crédito, há indicativo de aumento da demanda, tanto nas condições atuais, que teve subida de 5,6 pontos e marcou 50,6 pontos, quanto nas expectativas futuras, que teve subida de 2 pontos e marcou 54,6 pontos. Há também perspectiva de que o faturamento das médias empresas cresça 11,7% em 2025, supra do IPCA amontoado projetado para o ano, de 5,65%, e quase o duplo do propagação de 6,1% observado em 2024, diz a FDC.

No caso da perspectiva de aumento da demanda, diz Ribeiro, esta pode estar relacionada a estímulos porquê o crédito consignado do setor privado, entre outras medidas adotadas pelo governo Lula para estimular o propagação econômico. “Essa facilidade, seja de crédito e ou de numerário, ajuda muito”, afirma. “Muita gente ganhando um pouco mais de numerário tem resposta imediata no consumo.”

Segundo a pesquisadora, o resultado do ICME deste semestre, com perspectiva de aumento de faturamento, menos investimentos e menor ritmo de contratações, mostra que médias empresas, pressionadas por inflação e custos crescentes, podem estar apostando em ganhos de produtividade. “Isso poderá vir por novos processos mais eficientes, mas também pela automação.”

Os dados do indicador da instauração foram coletados entre 4 de fevereiro e 13 de março deste ano junto a 616 empresas brasileiras de médio porte – 241 do setor industrial, 80 empresas comerciais e 295 do setor de serviços.

(Com teor publicado originalmente no Valor PRO, o serviço de notícias em tempo real do Valor)