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Cripto: entre a novidade internet e o velho cassino do dedo

Cripto: entre a novidade internet e o velho cassino do dedo

Cripto: entre a novidade internet e o velho cassino do dedo

Cripto: entre a novidade internet e o velho cassino do dedo

O mercado cripto é, por definição, um território de tensões — e talvez nenhuma seja tão medial quanto esta: de um lado, uma proposta ousada de reconstrução da infraestrutura do dedo, baseada em transparência, descentralização e propriedade compartilhada — tema que exploro com profundidade no meu livro A Tokenização do Quantia. Do outro, um espetáculo de especulação, onde promessas de enriquecimento momentâneo surgem e somem na velocidade de um meme. Velejar entre esses dois mundos — e reconhecer a legitimidade de ambos — é hoje necessário para entender o que de indumentária está em jogo.

Chris Dixon talvez tenha sido quem melhor traduziu essa tensão, em seu livro Read Write Own — leitura que confesso ter devorado, e com a qual concordo em quase tudo, mormente pela forma simples e alcançável com que ele articula ideias que, a princípio, parecem bastante complexas, e às vezes até são mesmo.

Dixon divide a história da internet em três atos. Primeiro, o “read”, quando exclusivamente consumíamos teor. Depois, o “write”, quando passamos a participar, gerar, comentar — estágio em que ainda estamos. Agora, começa o “own”: a era da posse do dedo. Não exclusivamente interagimos com plataformas; podemos ter segmento delas. Alguns labareda isso de WEB3, e é cá que blockchain entra porquê protagonista.

Essa classe tecnológica, muitas vezes reduzida à imagem de “moeda do dedo”, é na verdade uma infraestrutura radicalmente novidade, capaz de redesenhar porquê operamos na internet. Ela permite que comunidades criem redes sociais, marketplaces, sistemas financeiros e jogos onde as regras são transparentes, as decisões são coletivas e o valor gerado é distribuído entre os participantes. Uma espécie de computador global, sincero, onde o código substitui o intermediário — seja ele uma empresa, um banco ou um governo.

Mas esse porvir promissor convive com uma face muito mais barulhenta e, por vezes, distorcida: o “cassino cripto”. É o universo dos tokens de cachorro, das promessas de multiplicar capital em dez vezes em 24 horas, dos projetos que capturam a atenção do mercado por cinco minutos e depois desaparecem, deixando um rastro de investidores frustrados. É o lado que atrai manchetes, memes e escândalos — e que, infelizmente, tende a dominar a percepção pública sobre o que é cripto.

Não se trata de um problema novo. Toda novidade tecnologia passa por uma temporada de euforia especulativa. A internet dos anos 90 também teve sua bolha, suas Pets.com e promessas vazias. Mas, assim porquê naquela idade, é fundamental separar o soído do sinal. O repto cá é que, no caso de blockchain, o soído é muito cimo — e o sinal, ainda pouco entendido.

A diferença fundamental entre esses dois mundos não está exclusivamente na intenção, mas na arquitetura. No cassino, o objetivo é tomar valor rapidamente, muitas vezes sem gerar zero de concreto. Na infraestrutura, o valor é criado ao longo do tempo, pela construção de protocolos, governança, redes. Um exige paciência, o outro, sorte. Um atrai builders, o outro, apostadores.

E é cá que a questão regulatória entra com força. Se tratarmos todo o ecossistema porquê se fosse um cassino, corremos o risco de sufocar a inovação legítima. Ao mesmo tempo, se ignorarmos os excessos e as fraudes, colocamos em risco a credibilidade da tecnologia porquê um todo. O estabilidade é frágil — e urgente.

Ao mesmo tempo que tentamos colocar toda essa inovação dentro das “caxinhas regulatórias” que já criadas, temos que ter a ciência de que estamos trabalhando com um pouco novo e que pode, possivelmente, necessitar de uma novidade “caixinha” só para ele. Será cripto só investimento? Porquê enquadrar o token que é ao mesmo tempo de governança, de gasto para registrar transações e que pode ser aplicado (staked)?

O papel de blockchain pode, e acredito que será, muito grande e disruptivo. Podendo, por exemplo, gerar um novo protótipo de propriedade do dedo, em que usuários deixam de ser exclusivamente “produtos” das plataformas e passam a ser donos de indumentária. É uma mudança enorme e que pode descentralizar não exclusivamente sistemas financeiros, mas estruturas de poder.

Simples, ainda estamos longe dessa verdade. A usabilidade das aplicações é precária, a governança das Organizações Autônomas Descentralizadas (do inglês, Decentralized Autonomous Organization, DAOs) é muitas vezes ineficiente, e a adesão do público universal ainda é limitada. Mas ignorar esse processo seria porquê olhar para a internet de 1995 e concluir que ela não tinha porvir porque demorava dois minutos para carregar uma página. E olha que tem muita gente inteligente na idade que concluiu rapidamente, e erroneamente, isso.

O ponto é que não tenho dúvidas sobre a integração de cripto ao nosso cotidiano — é inevitável. A verdadeira escolha que temos adiante não é se isso vai intercorrer, mas porquê vai intercorrer. Podemos açodar esse processo com regulação inteligente, investimento em infraestrutura e ensino; ou podemos atrasá-lo, permitindo que o soído continue abafando o sinal.

Cripto continuará sendo um espaço fértil para a inovação. Mas também seguirá sendo um terreno de tensão, onde novas formas de coordenação coletiva convivem com ciclos especulativos intensos. Cabe a nós — porquê reguladores, investidores, builders — prometer que o que floresça seja a infraestrutura, e não o cassino. Blockchain já não é mais promessa, é verdade em construção. A decisão que temos pela frente é simples: lideramos essa transição com responsabilidade, ou seremos atropelados por ela.

Gustavo Cunha é fundador da Fintrender.com

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Gustavo Cunha — Foto: Valor Investe

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