É o Fed ou o Batman?

Morcegos possuem radares naturais, que os permitem voar na negrume absoluta, navegando sem qualquer dificuldade em meio a obstáculos. Essa habilidade única lhes confere uma vantagem impressionante, possibilitando que se movam com precisão e prontidão, mesmo em ambientes hostis.
Em Gotham City, quando a ameaço de um transgressão iminente paira sobre a cidade, o Comissário Gordon acende o refletor, assinalado para o firmamento, chamando o Batman para agir. A diferença entre o morcego e o “varão morcego” é que o primeiro confia exclusivamente no seu radar para seguir em frente, enquanto o segundo, ao ser convocado, se coloca porquê a última risco de resguardo contra o mal que toma conta da cidade.
Ao contrário do morcego ou do Batman, que operam no escuro com segurança, a política monetária é uma ação em que não há espaço para o instinto ou improvisação.
Costumo proferir aos meus alunos que os bancos centrais, em privativo o americano, são porquê a Liga da Justiça: heróis econômicos que, em momentos de crise, têm o poder de restaurar a ordem no mundo financeiro, pois são os emprestadores de última instância. Foi assim na crise de 2008, na pandemia e agora, com o espectro de uma crise de liquidez assombrando o interbancário americano.
De roupa, o papel de um banco medial é calcular cuidadosamente os impactos de suas decisões, baseando-se em dados confiáveis e estudo técnica, não em apostas ou especulações. Caso contrário, corre o risco de ser visto porquê um “apostador”, jogando dados ao eventualidade.
Neste momento, por pretexto do “shutdown” do governo, o banco medial americano (FED) parece estar navegando sem as informações completas que normalmente orientariam suas decisões, o que o coloca, sim, em uma posição vulnerável. Sem entrada às estatísticas essenciais, o FED se vê em uma situação difícil, tomando decisões com base em uma percepção incerta sobre o estado real da economia. E essa falta de informações faz com que as ações da poder monetária se assemelhem mais a apostas do que a decisões muito fundamentadas.
Porém, ao contrário dos heróis de quadrinhos, que têm uma missão clara, o FED atualmente enfrenta um caos econômico e político (tarifas, shutdown, guerra quente, guerra fria), onde suas decisões podem ser tão imprevisíveis quanto o comportamento de um vilão em uma noite sombria. Prova disso é que ele cortou, faz poucos dias, suas taxas de juros em 0,25 pontos percentuais. Todavia, o presidente da instituição, Jerome Powell, deixou evidente que uma novidade redução, na última reunião do ano, porquê o mercado espera/exige para prosseguir no rali do “sobe tudo”, também divulgado por lá porquê TINA (there is no alternative), não é uma “desfecho inevitável”.
O manifesto é que a situação econômica dos Estados Unidos é preocupante e podemos estar na antessala de uma recessão: o país enfrenta déficits orçamentários elevados, uma dívida crescente supra de 120% do PIB e inflação (3%) que ainda está muito supra da meta estabelecida (2%). Demais, o mercado de trabalho também apresenta distorções, com o paradoxo de uma economia que, por um lado, demonstra sinais de debilidade, enquanto, por outro, setores importantes, porquê o de Perceptibilidade Sintético (IA), parecem viver em uma bolha inflada pelos investidores, com as “7 magníficas” representando 33% do índice S&P500.
O que quero enfatizar neste texto é que o FED está diante de um cenário multíplice, onde debates em torno de uma crise de liquidez por lá pululam e agravam o quadro. Porém, ao contrário do herói de Gotham, que se guia por seu instinto e pela experiência, o banco medial americano está lidando com uma penca de variáveis incertas. E, em uma economia mundial interconectada e imprevisível, qualquer erro pode ser severamente punido pelo mercado. A redução das taxas, por exemplo, pode ser interpretada porquê uma tentativa de “apostar” na recuperação da economia, sem a certeza de que isso realmente levará a uma estabilização.
A metáfora do morcego e do Batman, neste contexto, vai além da simples teoria de operação nas sombras. Ela se torna uma sátira ao papel do FED, que, em suas decisões recentes, parece estar se posicionando mais porquê um “big gambler” ao invés de um líder que age com base em dados sólidos e uma visão estratégica clara. E os mercados, com suas capacidades de reagirem a qualquer sinal de incerteza, podem perceber esse comportamento porquê imprudente. Em outras palavras, há um risco de o FED continuar a agir sem uma base concreta de informações, minando a crédito dos investidores e da população.
Por término, recentemente, o renomado investidor, Michael Burry, anunciou suas apostas (via opções de venda) contra gigantes da IA, porquê Palantir e Nvidia, citando valuations exagerados, um tema, aliás, que já abordei inúmeras vezes nesta pilastra. Curiosamente, no cinema, o ator Christian Bale, que interpretou “Batman: o Cavaleiro das Trevas”, também viveu o papel de Burry em “A Grande Aposta”. Escrevi por cá, há poucas semanas, que o mercado, no oba-oba, estava erroneamente se “lixando” para o “shutdown”, que agora virou a pretexto de bitcoin ter adentrado em território “bear”, depois uma queda de 20% do seu pico. Minha incerteza é: qual dos personagens sairá vencedor nessa disputa; o Batman ou o estrategista, que aposta contra a bolha da IA? O desfecho será real e não uma produção de Hollywood.
Alexandre Espirito Santo, Sócio e Economista-Patrão da Way Investimentos e professor de Economia e Finanças do IBMEC-RJ e ESPM
Alexandre Espirito Santo
Valor Investe
source
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_f035dd6fd91c438fa04ab718d608bbaa/internal_photos/bs/2025/D/B/W2ihWST2qI3sLnJU3t8g/zeca-doherty.jpg?ssl=1)
Publicar comentário