E se o 'TACO' ajustar na nossa cabeça?
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Daqui a dois meses, completo 38 anos de atuação no mercado financeiro. Mesmo diante dessa longa jornada, ainda me surpreendo com as idiossincrasias dos mercados e com certas crenças pueris, uma vez que a de que o “TACO” — acrônimo de Trump Always Chicken Out (ou “Trump sempre amarela”, em tradução livre) — prevalecerá em relação às recentes decisões do presidente americano envolvendo o Brasil. Poder até pode, porém…
Quando Trump determinou a imposição de tarifas de 50% sobre importações de produtos brasileiros, no início de julho, os mercados reagiram com indiferença, com movimentos modestos de ajuste, principalmente nos ativos de risco, uma vez que ações e dólar. Considerei essa reação obscuro, inclusive pelo traje de, em minha estudo, o PIB deve suportar entre 0,2% e 0,4% no horizonte de 12 meses. “Ah, é muito pouco”, alguns analistas disseram. Ué, está sobrando para menosprezar? Mas, não foi só…
Entre segunda a quarta, em seguida à decisão do Departamento de Estado de suspender os vistos de autoridades brasileiras, a bolsa subiu 2% e o dólar caiu 1,5%. Incrível o desdém com os fundamentos diante dessa mixórdia toda. Disrupção, é o que advogam…
Com a proximidade do dia 1º de agosto, data em que Trump prometeu a taxação de 50%, penso que a veras deva se impor. Minhas cãs berram em meus ouvidos que ele não amarelará, pois, pelo que a mídia reportou, já nos foi dito, quando pedimos para negociar: “too late”! Assim, enquanto outros países estão fechando acordos (Japão, Vietnã, Indonésia, Singapura, Reino Uno), só temos a promessa do ministro Haddad de que não sairemos da mesa de negociação.
Confesso que errei ao supor, inicialmente, que a imposição de 50% de tarifas estivesse associada tão somente a uma questão econômica, uma vez que a proposta brasileira de geração de uma moeda escolha ao dólar para o negócio internacional, principalmente entre os BRICS. Trump já afirmou diversas vezes que não aceitará o dólar perder seu status de referência global.
Agora entendo, porém, que as motivações do presidente americano incluem também outras razões, sejam elas questionáveis ou não.
Um profissional de mercado precisa ser pragmático. Não é surpresa para ninguém que a forma pouco cortês com que Lula vem se manifestando em relação a Trump, desde antes das eleições, já indicava uma possibilidade de retaliação de sua segmento, pois tratou-o com predicados zero elogiosos, do tipo fascista, imperador do mundo, jogador de truco e por aí vai.
Adoraria se os americanos reduzissem os 50%, embora acredite que as chances de vermos figuras ainda maiores não são desprezíveis e de que as medidas avancem para streaming e licenças de softwares, por exemplo.
Com franqueza, não me parece razoável confrontar a principal economia do planeta e nosso segundo maior parceiro mercantil, enquanto somos somente o 40º pelo lado deles. E revidar, uma vez que muitos pedem, só agravará a situação.
O visível é que temos, neste momento, uma deterioração das relações diplomáticas entre os dois países uma vez que não se viu na história. Infelizmente, creio que tudo pode piorar.
Continuando, não pretendo abordar o tema sob a ótica política/soberania, pois não sou perito em diplomacia. Prefiro direcionar o texto para a minha espaço: investimentos.
Meu maior receio é de que a “paixão” recente dos investidores pelos ativos brasileiros esteja com os dias contados. Porquê já disse em outras ocasiões, esse namorico está mais pela substituição do fora que a namorada externa deu do que pelos encantos da pretendente sítio.
Por exemplo, olhemos as decisões no contextura fiscal, de terça-feira, que praticamente sepulta a meta primária de 2026 e escanteia livros de disciplinas para os alunos de escolas públicas de ensino fundamental, que não os de português e matemática, por falta de verbas.
Tenho reforçado incessantemente, na pilastra, que os investidores estrangeiros compraram nossa bolsa e moeda no primeiro semestre por um rearranjo de portfólio, além de apostar que Lula não se reelegerá no ano que vem e que, portanto, haverá uma guinada na política econômica. Lembro, inclusive, que, em um dos artigos, questionei se esses investidores teriam se tornado uma espécie de “Mãe Dinah”, tamanha a intervalo até as eleições.
A situação é muito complexa! Se é para ser profetisa, creio relevante, uma vez que alertou o deputado licenciado, Eduardo Bolsonaro, considerar a possibilidade de que os EUA, não reconheçam o pleito de 2026 (o que poderia, paradoxalmente, facilitar a reeleição de Lula). Teremos, de traje, um candidato competitivo da oposição ou Lula concorrerá (na prática) sozinho?
Tal hipótese nos levaria a um verdadeiro “ruína” político, com consequências imprevisíveis sobre os investimentos diretos e de carteira por cá, que tenderiam a desabar. E, assim uma vez que se empanturraram precipitadamente, esses investidores podem transpor desovando os US$ 25 bilhões aplicados na B3 no 1º semestre de 2025, o que geraria uma pressão suplementar sobre o dólar, aumentaria a inflação e dificultaria ainda mais o trabalho do Copom em reduzir a Selic. Não esqueçam que alguns estão advogando que a taxação é boa para o país, para a redução de inflação, pois vai aumentar a oferta interna e derrubar os preços. Façam-me o obséquio!
Diante desse cenário conturbado, o que se impõe agora é (reforço!) cautela. Investidores precisam calibrar melhor suas expectativas e considerar seriamente os riscos geopolíticos e institucionais que pairam sobre o Brasil. Não há mais espaço para ingenuidade ou para decisões pautadas exclusivamente em narrativas otimistas. O mercado, uma vez que a história insiste em nos lembrar, não perdoa dissonâncias entre expectativas e veras. E, para quem vive disso há quase quatro décadas, é justamente nos momentos de euforia irracional que o transe se esconde com mais astúcia. Que os próximos meses sirvam, ao menos, uma vez que um lembrete de que fundamentos, política e diplomacia caminham juntos e que ignorá-los pode custar muito dispendioso.
Alexandre Espirito Santo, Sócio e Economista-Encarregado da Way Investimentos e professor de Economia e Finanças do IBMEC-RJ e ESPM
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