Em meio à escalada da guerra, investidores driblam volatilidade da bolsa do Brasil

Nesta segunda (23), as ações domésticas foram penalizadas com a debandada da renda variável de mercados emergentes. Privilegiadas pelo extenuação do dólar neste início de ano e, mais recentemente, por alguma perspectiva de valorização do petróleo, agora ninguém mais está topando enfrentar os altos e baixos de um mar revolto embarcado nessas bolsas.

• O Ibovespa despencou do patamar dos 137 milénio pontos hoje e, depois a queda de 0,4%, fechou nos 136.550 pontos. No mês de junho, a carteira agora está com perda de 0,35%. Desde o início deste ano, a valorização acumulada caiu para 13,5%.

O vaivém no petróleo reforçou a aversão ao risco. Uma vez que as exportadoras representam quase um terço do principal índice de ações no Brasil, os solavancos provocados pela escalada da guerra se refletiram nos ativos domésticos.

• Das 84 ações que fazem secção do Ibovespa atualmente, 46 desvalorizaram nesta sessão.

As ações das Petrobras, a maior companhia da bolsa brasileira em valor de mercado, recuaram até quase 3% nesta sessão marcada pela elevada volatilidade nesses ativos sensíveis ao cenário extrínseco.

• A exemplo do dólar mercantil, que começou o dia em subida e depois passou a tombar, fechando o pregão com perda de 0,4% contra o real, a R$ 5,50. No mês de junho, já cedeu 3,77%. Desde o início do ano, ficou quase 11% mais barato para o brasiliano.

Os movimentos de muitos ativos locais acompanharam o sobe e desce do barril do Brent (referência global para negociação do petróleo), que abriu em queda, depois passou a se valorizar, logo caiu, subiu e depois caiu de novo. Ao término e ao cabo, o contrato para fechou com perdas de 7,18%, a US$ 71,48 por barril.

O petróleo acelerou a queda na sequência da retaliação do Irã ao bombardeio americano do último sábado, ou seja, mesmo com uma pressão maior para o envolvimento dos Estados Unidos no conflito.

“A fenda dos índices futuros na noite de domingo já indicava uma reação contida. Curiosamente, o petróleo acelerou a queda depois o Irã retaliar com ataques a bases americanas, um movimento aparentemente contraditório. Uma das leituras para esse ‘contrassenso’ é de que a ofensiva iraniana pode pressionar os EUA a entrarem de forma mais direta no conflito, o que, paradoxalmente, poderia correr seu desfecho“, explica o economista Alexandro Nishimura, diretor da Nomos.

• Assim, a carteira do Ibovespa movimentou tímidos R$ 14,5 bilhões hoje, aquém da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,6 bilhões.

Com os altos e baixos das ações domésticas, poucos são aqueles que ainda têm estômago para a volatilidade do mercado de renda variável no Brasil. Mormente com renda fixa com retorno de pelo menos 15% ao ano a riscos mais baixos.

É indumentária que as ações da bolsa brasileira estão baratas. O lucro médio das empresas listadas dividido por ação (o tal preço sobre lucro, ou P/L) ronda um nível aquém de 9 vezes. Esse múltiplo fica aquém do patamar histórico do nosso mercado, que é de 11 vezes, e também muito aquém de outras bolsas emergentes.

Também há de se convir que o mercado de ações no Brasil reúne grandes empresas de qualidade, com fundamento e excelentes históricos de distribuição de dividendos.

Acontece que zero disso é suficiente para segurar um investidor diante de tantas incertezas. No limitado prazo, a expectativa é de mais sessões de muito sobe e desce, reviravoltas para as principais empresas do país e, ainda por cima, novas tramas no enredo fiscal doméstico.

A saída para muitos é voltar a apostar seguro: e a renda fixa, tanto cá quanto lá fora, são boas pedidas nesses tempos em que zero está guardado.

• A taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 seguiu em 14,96% ao ano. Prêmios em contratos de limitado prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 foram de 13,41% para 13,39%ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa saiu de 13,58% para 13,61% ao ano. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.