Está na moda escolher não comprar
O subconsumo se concentra em gastar menos e buscar uma vida mais simples, enquanto o quiet luxury foca em gastar com discrição, preferindo produtos de alto valor agregado Quase todo mundo que converso gostaria de consumir menos. Eu me incluo nessa. Os motivos são os mais variados. Uns se sentem sufocados pelos closets abarrotados de coisas sem uso, outros justificam tal vontade como consciência ambiental. Tem ainda os que entenderam que a conta corrente não tem a mesma sintonia do cartão de crédito e até os que sabem que aparentar ter menos é hype do momento. Esses são apenas alguns dos motivos que têm levado pessoas a aderirem ou ao subconsumo ou ao quiet Luxury.
Embora esses dois conceitos compartilhem a essência de rejeição ao consumismo ostensivo, suas motivações, públicos e manifestações são um tanto distintos. Enquanto o subconsumo se concentra em gastar menos e buscar uma vida mais simples, o quiet luxury foca em gastar com discrição, preferindo produtos de alto valor agregado.
O subconsumo é uma prática financeira que, à primeira vista, parece o oposto da lógica predominante no mundo atual, onde somos levados de todas as formas a consumir. Esse movimento, vale destacar, não surgiu do nada. Ele é uma resposta a mudanças econômicas, sociais e culturais que moldaram a forma como as pessoas lidam com o dinheiro e o consumo. Ao gastar menos do que ganha, se cria um espaço para o equilíbrio das contas. Esse comportamento, quando bem direcionado, pode gerar uma base sólida para a construção de um bom patrimônio ao longo do tempo, garantindo uma maior segurança financeira no futuro.
Mas ser um subconsumidor traz benefícios que vão muito além do saldo da conta bancária. Consumir menos incentiva a reflexão sobre o que realmente importa, levando a escolhas mais conscientes e promovendo um estilo de vida mais alinhado ao essencial. É, portanto, uma resposta às necessidades de adaptação em um mundo cada vez mais volátil economicamente e reflete a busca por segurança, equilíbrio e alinhamento entre finanças pessoais e valores individuais.
O quiet luxury também soa contraditório a zero de jogo. Por que cargas d’água quem tem muito quer aparentar ter pouco? No fundo, o quiet Luxury reflete uma busca por exclusividade e sofisticação e não por gastar menos. Ele é uma tendência predominante entre consumidores de alta renda ou pessoas que já atingiram um patamar financeiro confortável, que prezam pela seletividade, preferindo um consumo discreto e alinhado com valores como sustentabilidade e exclusividade.
A ideia é consumir produtos e serviços de alta qualidade, mas sem exibições ostensivas de marcas ou logotipos (um desafio para determinadas marcas, aliás). Isso cria a diferenciação discreta que os habitantes do topo da pirâmide social passaram a demandar. É mais sobre ser do que parecer, valorizando o design, a durabilidade e o prestígio silencioso que o dinheiro pode comprar.
No quiet luxury, o foco está em consumir menos, mas consumir melhor. É o caso de investir em peças de alta-costura sem exageros, joias discretas, ou experiências exclusivas, como viagens a destinos menos explorados. A ideia é valorizar a qualidade e a história por trás do produto, sem apelar ostentação.
Os dois movimentos, no fim das contas, visam o menos como suficiente e rejeitam o consumismo desenfreado. Mas enquanto o primeiro reflete uma busca por segurança e simplicidade, o segundo exala discrição e refinamento.
Em ambos os casos, seja você um subconsumidor ou um consumidor silencioso, uma coisa é certa: a liberdade financeira sempre estará muito mais relacionada a poder escolher do que a poder comprar. Por não há nada mais libertador poder escolher, inclusive, não comprar.
Ana Leoni
Arte sobre foto Divulgação
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