Ibovespa nos 200 milénio pontos: novidade fronteira da bolsa é delírio ou veras?
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Ultrapassados os 150 milénio pontos, que por quatro anos funcionaram uma vez que meta para a bolsa brasileira, os 200 milénio se tornaram a novidade fronteira psicológica do Ibovespa. A intervalo até lá parece diminuir com a perspectiva de queda da Selic, mas o caminho não é trivial.
“Os 200 milénio pontos são uma marca simbólica, mas financeiramente razoável”, pondera Felipe Miranda, diretor de investimentos (CIO) da Empiricus. A vivenda não trabalha com a projeção dos 200 milénio pontos, embora o executivo, quando confrontado com o número, admita a possibilidade – mas não a verosimilhança – de o Ibovespa chegar lá em breve.
O cômputo de Miranda se baseia unicamente em questões técnicas, para as quais as perspectivas de prolongamento de 15% a 20% no lucro das empresas neste ano podem levar a uma reavaliação positiva e, consequentemente, à estirada das ações. Esse novo cenário traça um potencial de subida de 30% para o índice – o que já é mais do que ele precisa atualmente para inferir os 200 milénio pontos.
No entanto, uma vez que Miranda reconhece, esta é uma matemática que funciona muito no papel, mas encontra seus obstáculos na veras.
Com o Ibovespa nos 158 milénio pontos, considerado o fechamento de ontem, atingir a novidade fronteira psicológica ainda neste ano exigiria que o índice subisse 26% em praticamente um mês.
Justamente por isso, é improvável que o índice alcance os 200 milénio pontos até o término de 2025. O que não é expor que a próxima fronteira esteja assim tão longe. Para os analistas, a novidade barreira da bolsa pode ser rompida, no melhor cenário, no segundo semestre do ano que vem.
Mas dois fatores ainda sustentam certa cautela.
- Primeiro, as estatísticas: desde o Projecto Real (1994) uma subida de 26% ou mais do Ibovespa nos dois últimos meses do ano só ocorreu outras duas vezes, no ano de 1999 e em 2020.
- Segundo, os fundamentos: o principal gatilho de limitado prazo, o golpe da Selic, só deve inaugurar no primeiro trimestre de 2026. Juros menores aliviam dívidas e melhoram margens de lucro, mas outra secção do destravamento desse fluxo, que poderia levar o índice ainda mais longe, depende do cenário eleitoral e fiscal de 2026.
“Nos últimos 15 anos, o desempenho do Ibovespa margem 120%. Nessa janela, a bolsa perdeu para o CDI [índice de referência da renda fixa, que segue de perto a Selic], para o IPCA [indicador oficial de inflação] e até para a poupança. Logo, uma vez que a performance da carteira está muito defasada, o índice está tendo mais ímpeto para inferir novos recordes”, explica o CIO da Empiricus.
Mas esse cenário exige atenção aos riscos antes de reprofundar nas narrativas do mercado financeiro.
O freio da bolsa: rendimento real
O maior travanca para a bolsa hoje é o rendimento real de longo prazo (a diferença entre os juros futuros e a inflação projetada). Esse indicador, refletido nos títulos do Tesouro IPCA+ (NTN-B), mede o gosto ao risco: quanto maior o rendimento real pago pelo governo, menos atrativa a bolsa.
O Morgan Stanley estimou que os brasileiros iniciarão o próximo ano com a menor alocação em ações da história. Mas a queda da Selic de 15% para 11,5% (projeção da equipe do banco para o término de 2026) poderia atrair murado de R$ 77 bilhões na bolsa via fundos domésticos.
Mais cauto nas projeções, o Itaú BBA ainda calcula que a queda da Selic pode fazer com que o lucro de empresas ligadas à economia doméstica (varejo e serviços) cresça murado de 32% em 2026, contra um ritmo de subida de 7% em 2025. Isso aconteceria pelo atraso da “garra” dos juros sobre o consumo e também por reduzir o dispêndio das dívidas, que deteriora os lucros dessas companhias.
Mas, mesmo com as quedas recentes das taxas nos contratos futuros de rendimento, o nível do rendimento real de longo prazo segue ressaltado, fundeado no desequilíbrio fiscal. Neste contexto, entram as discussões sobre o que pode ser o principal travanca para um rali movido pela queda da Selic na bolsa: as eleições presidenciais em 2026.
Sem um horizonte fiscal simples, a renda fixa continua sendo uma concorrente quase imbatível para as ações.
E o mesmo Morgan Stanley reconhece a corrida eleitoral uma vez que um evento chave para destravar o fluxo de investimento lugar na bolsa. Mas o banco americano trabalha com um cenário-base de vitória de um candidato (por ora, incógnito) bem pelo mercado financeiro.
Os grandes investidores têm declarada afinidade com a agenda da centro-direita e da direita brasileira, que esses especialistas entendem ser fiscalmente mais responsável e ter uma política econômica mais encantador para os investimentos no país.
Por outro lado, o mercado financeiro questiona o compromisso do governo mais à esquerda no espectro político – uma vez que o atual – com o controle de despesas. A questão médio, dizem, é que esse descontrole das contras públicas eleva o risco de investir cá e pressiona os juros da dívida federalista, o que impede que a Selic caia para um dígito mesmo nas projeções de longo prazo.
Assim, a eleição presidencial é o evento que definirá o horizonte para os juros e, por isso, conduzirá os humores do mercado a partir do segundo semestre.
Só que os mais otimistas não atrelam um desfecho positivo para o mercado financeiro exclusivamente à vitória da direita nessa corrida. Miranda, por exemplo, enxerga uma “assimetria positiva” para o investidor da bolsa no ano que vem.
Ele explica que, hoje, a maioria dos grandes investidores tem uma visão binária para o cenário eleitoral: ou de ininterrupção do governo atual, o que é visto uma vez que uma “certa complacência” e “não provocaria uma explosão” de subida no índice, mas conservaria o envolvente atual, fortemente dependente de gatilhos externos; ou, no segundo cenário, de vitória de um candidato de centro-direita percebido uma vez que reformista, o que acionaria o gatilho para um “super rali” na bolsa.
- “Mas uma vitória do Lula precisa contemplar a verosimilhança, ainda que pequena, de ele precisar promover um ajuste fiscal porque o ‘quantia acabou’. E ele [Lula] é pragmático nesse sentido. Para a bolsa, isso significa que o cenário de ajuste fiscal fica preponderante, mesmo que por uma margem pequena“, avalia o executivo da Empiricus sobre o horizonte eleitoral em 2026, para o qual Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já confirmou ser candidato à reeleição.
Porquê investir: otimistas vs. cautelosos
Embora a queda da Selic seja um condutor importante da subida do Ibovespa e seja dada uma vez que certa hoje, a estratégia de investimento na bolsa deve ser pensada conforme a aposta em quando os juros vão inaugurar a desabar por cá.
- Segmento do grupo otimista com a bolsa brasileira, Daniel Gewehr, estrategista-chefe do Itaú BBA, acredita na subida do Ibovespa nos próximos três a seis meses. “Em todos os momentos que o Brasil cortou juros desde os anos 2000, a bolsa subiu”, diz, citando o levantamento do banco que mostra um retorno médio histórico do índice de 18% nos seis meses subsequentes ao início do ciclo de refrigério monetário.
O “pulo do gato” é se antecipar: o melhor momento de comprar ações, de congraçamento com o estudo, costuma ser três meses antes do primeiro golpe na taxa básica de juros.
“Se a Selic inaugurar a descer em janeiro, os investidores precisariam estar comprando ações e aumentando suas posições na bolsa desde outubro. Se o golpe ultimar ficando para março, o ponto ideal para velejar essa subida é de dezembro a janeiro”, explica Gewehr.
- Na ponta dos cautelosos com a bolsa está Tadeu Arantes, responsável por alocação da Ghia Multi Family Office, que mantém uma posição neutra em ações devido ao ressaltado dispêndio de oportunidade (um retorno pouco atrativo diante do risco oferecido pela classe e em conferência com a rentabilidade dos títulos públicos). Para ele, o Tesouro IPCA+ pagando rendimento real supra de 7% é “a classe mais atrativa do momento”.
Essa cautela é compartilhada por Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP. O cenário base da vivenda é de Ibovespa em 170 milénio pontos no término de 2026 – o que representaria subida de unicamente 7% nos próximos 13 meses.
A projeção da XP ainda considera o índice em 155 milénio pontos no término deste ano, já que a equipe acredita que a bolsa deve se manter em zona de realização dos lucros (com o índice devolvendo secção dos ganhos deste ano) no próximo mês.
Ferreira explica que, enquanto o rendimento real longo não desabar para perto de 5%, os 200 milénio pontos são inviáveis para o Ibovespa.
“Todavia, se o Brasil endereçar sua questão fiscal e esse rendimento real convergir para perto dos 5%, o cenário muda. Com um IPCA+ pagando juros mais perto dessa média histórica, o nosso valor justo para o Ibovespa sobe supra de 200 milénio pontos e alcança 215 milénio pontos”, estima Ferreira.
Mesmo com ressalvas e mais cautela, a XP tem posições comprada (que aposta em valorização) em ações na bolsa brasileira.
O estrategista-chefe da XP defende particularmente as alocações em Petrobras e Vale, papéis que não são consenso no mercado financeiro e nos quais os fundos de gestão ativa estão pouco investidos.
“Viajei para Novidade York recentemente e, em conversas com investidores institucionais estrangeiros, identifiquei que Petrobras e Vale não estão entre as principais participações dessas carteiras. Um gestor de um veículo grande de alocação em mercados emergentes que tinha grandes posições históricas nessas empresas me contou que zerou suas posições nas duas companhias”, conta.
Essa divergência entre investidores eleva o risco da aposta, mas também recompensa mais o acionista que acerta a estratégia.
“Por mais que a nossa visão não seja tão otimista para os preços do petróleo e do minério de ferro, gostamos dessas ações porque são de empresas defensivas para a carteira, que geram caixa, pagam bons dividendos, e funcionam uma vez que um hedge [estratégia de proteção] para o caso de uma menoscabo do câmbio [por terem receitas dolarizadas].”
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