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Informações privilegiadas e ‘fake news’ no mundo financeiro

Informações privilegiadas e ‘fake news’ no mundo financeiro

Informações privilegiadas e ‘fake news’ no mundo financeiro

Informações privilegiadas e ‘fake news’ no mundo financeiro
Disseminação de boatos, notícias distorcidas e mentiras é o desafio a ser enfrentado pelos participantes do mercado Em coluna no Valor Investe, o ex-presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Marcelo Trindade relacionou as informações trocadas entre os guias de safáris na África com o uso de informações privilegiadas no mercado financeiro.
O argumento é que, por dever ético e para o bom funcionamento do mercado, todos deveriam compartilhar as informações, seja no safári ou na gestão de recursos financeiros. Agindo dessa forma haveria a maximização do valor dos negócios e do bem-estar de todos.
De certa forma é interessante a discussão sobre informações privilegiadas atualmente. Hoje em dia, o que mais se vê em circulação no mercado são boatos, notícias distorcidas e mentiras que são espalhadas na forma de “fake news”.
Informação privilegiada ocorre quando alguém sabe de alguma coisa e acaba tirando vantagem financeira com isso. Por exemplo, imagine um profissional do mercado financeiro que está assessorando os investimentos pessoais de um cliente que frequentemente participa de negociações envolvendo fusões e aquisições de empresas com ações negociadas em bolsa.
Se nas conversas com o cliente o assessor acabar sabendo, mesmo que involuntariamente, de alguma transação específica que vá valorizar o preço de determinada ação, ele tem uma informação privilegiada. E, neste caso, precisa fazer uma escolha.
Uma alternativa é ficar quieto e fazer o trabalho de assessoria da melhor forma possível para o cliente. Outra é tentar lucrar pessoalmente com a informação.
Uma maneira discreta de o profissional se aproveitar da informação privilegiada é alertando os demais clientes que ele assessora sobre o potencial de valorização daquela ação específica. Afinal de contas, todo investidor gosta de uma dica certeira.
Agindo assim, a fama do assessor se espalha e ele consegue aumentar os ativos que tem sob gestão. Como consequência, as comissões ficam maiores, a receita do assessor cresce e mais clientes ficam contentes.
Parece o chamado jogo do “ganha-ganha”. O problema é que isso é considerado uma atividade ilegal, porque o benefício de alguns ocorre às custas de outros.
Conflitos de interesse na prática
Para entender melhor, considere o caso em que um assessor de investimento teve a informação de que um determinado fundo de investimento está com uma posição que não reflete a realidade do valor negociado em mercado. Assim que a informação se tornar pública, o valor da aplicação no fundo de investimento terá uma forte desvalorização.
Se o assessor avisar alguns clientes e nem todos os investidores do fundo ficarem sabendo, o resultado vai ser a derrocada da carteira. No fim, alguns investidores mais bem informados evitarão os prejuízos e outros podem perder todas as economias.
A consequência do mau uso da informação privilegiada é a perda de credibilidade dos investimentos oferecidos no mercado financeiro. Se a percepção das pessoas for de que só é possível lucrar na bolsa com dicas ou de que os fundos de investimento são uma “caixa preta”, a tendência é evitar as operações no mercado de capitais.
Agora, imagine um outro profissional hipotético do mercado financeiro que não tem nenhuma informação privilegiada, mas que resolveu vender a descoberto ações de uma determinada empresa. Ou fez alguma operação no mercado de derivativos apostando contra a moeda de um determinado país.
Nessas situações existe o incentivo para a disseminação de boatos e fake news.
Em suas memórias, o financista John Mack, ex-presidente do banco Morgan Stanley, relata o episódio que teve de enfrentar quando uma onda de boatos fez com que o banco perdesse depósitos e quase fosse à falência. Mesmo uma instituição respeitada e liderada por profissionais reconhecidamente capacitados teve dificuldade de lidar com a situação.
As fake news hoje viraram uma espécie de modelo de negócios. Quanto maior a barbaridade divulgada em posts nas redes sociais, maior o engajamento. E quanto maior alcance da fake news, maior o lucro para os envolvidos.
O lado problemático é que, assim como os boatos sobre a saúde financeira de um banco podem levar a uma corrida bancária generalizada, a proliferação de fake news tem potencial de acabar com a credibilidade de diversas instituições.
A disseminação de fake news é o problema a ser enfrentado pelos participantes do mercado financeiro.
Marcelo d`Agosto
Arte sobre Foto

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