Mercado 'nervosinho' azeda clima na bolsa, e Ibovespa perde os 125 milénio pontos

Com os ânimos à flor da pele, investidores estão ávidos por antecipar as discussões sobre as eleições presidenciais de 2026.

Se fossem exclusivamente nessa risco, a pesquisa da Genial/Quaest divulgada nesta manhã que mostrou o extenuação do governo Lula em seis estados daria fôlego para a tomada de risco no Brasil. Porquê deu, de trajo, no primórdio do dia.

A notícia agrada investidores, que torcem pela mudança de governo para uma guinada a uma agenda mais fiscalista e pró mercado.

Mas o gosto ao risco não resistiu ao quadro pintado pelo Cadastro Universal de Empregados e Desempregados (Caged), de um mercado de trabalho muito mais poderoso que o esperado.

• Assim, o Ibovespa encerrou a sessão em queda de 0,96%, de volta ao patamar dos 124 milénio pontos. Nesta semana, o índice já recuou 1,86% e, no mês de fevereiro, acumula perda de 1%. No ano, no entanto, ainda salva um saldo de 3,7% de valorização.

• Entre relatar com os resultados de eleições que acontecerão daqui quase dois anos ou dar atenção aos sinais de um mercado em níveis periclitantes para os juros, investidores privilegiaram o que tinham de mais concreto.

Mas não ajudaram zero a melhorar o clima na bolsa as falas do ministro do Trabalho e Ofício, Luiz Marítimo, na sequência da divulgação do Caged.

Diante da viradela dos humores na bolsa, o ministro disse que o mercado financeiro fica “nervosinho” e considera “ruim” quando são divulgados números positivos do mercado de trabalho.

Grandes investidores, gestores e empresários veem na sinalização de Marítimo o fortalecimento de uma tônica populista no governo, que se debate em tentativas para restabelecer a sua popularidade.

Ao que parece até cá, no entanto, o Planalto deve buscar essa recomposição da imagem junto ao eleitorado via incentivos econômicos e programas assistenciais.

Justamente no sentido contrário do que especialistas apontam que seria necessário agora. Para eles, o momento seria de moderação nos gastos para sustar o risco fiscal e, assim, perfurar o espaço para o Banco Medial (BC) tirar o pé do acelerador neste ciclo de aperto nos juros.

Um envolvente fiscal descontrolado é justamente o avesso do que investidores pedem. Para que o envolvente seja propício para a alocação em ativos domésticos, agentes (nacionais e estrangeiros) buscam garantias na renda fixa e um pouco mais de certezas no envolvente para tomar risco na renda variável.

Assim, o quadro tem pressionado o mercado de câmbio.

• O dólar mercantil refletiu essa aversão ao risco de hoje. A cotação da moeda americana avançou 0,83%, a R$ 5,80. Nesta semana, já acumula subida de 1,26%. No mês de fevereiro, ainda está em queda, de 0,6% e, no ano, de 6,1% contra o real.

A celeuma do mercado de trabalho

A geração de vagas de trabalho com carteira assinada no país veio quase três vezes mais que economistas estimavam. Já o salário médio de recepção aumentou 4% de dezembro para janeiro.

Embora boas notícias para o trabalhador brasiliano, da perspectiva dos juros, a situação fica sátira. Com mais renda, a população tende naturalmente a consumir mais.

E pela equação de mercado, uma maior demanda por bens tende a retirar os preços. Ou seja, inflação mais poderoso. E se essa ponta esquentar, o BC pode se ver obrigado a entrar em ação e apoucar ainda mais a taxa básica de juros, Selic, para regular o termômetro.

Assim, as apostas sofreram correções consideráveis hoje.

• A taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 saiu de 14,59% para 14,74% ao ano. Prêmios em contratos de limitado prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 oscilaram de 14,40% para 14,69% ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa foi de 14,45% para 14,61%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

Apesar de juros mais altos poderem tornar a renda fixa mais atrativa, a celeuma política afasta os investidores. Com o risco fiscal descontrolado e as incertezas no horizonte, agentes buscam refúgio para seu capital em outros mercados.

Portanto quase não teve janela para as ações reagirem hoje.

As expectativas pelo balanço da Petrobras, que será divulgado em seguida o fechamento do pregão, elevaram o clima de tensão entre investidores.

Nem tanto pelos resultados, que prometem ser bastante previsíveis – e pouco emocionantes, segundo analistas -, mas pelo proclamação dos dividendos mexe com os corações de investidores. Cabe lembrar que a companhia é a maior distribuidora de lucros da bolsa brasileira – e uma das maiores pagadoras do mundo.

Mas a verdade é que, à exceção das ações do setor siderúrgico, o azedume foi generalizado na bolsa.

• Das 87 ações que compõem o Ibovespa atualmente, 66 recuaram nesta sessão.

• Com tantas emoções, o Ibovespa girou R$ 17,2 bilhões, pouco supra da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,3 bilhões. O que não é lá grande coisa, considerando que a barra já está baixa: o movimento financeiro do índice está no menor nível desde 2019.

Verdade seja dita, embora o cenário doméstico tenha sido o principal depressor dos humores de investidores, o dia foi marcado globalmente por tensões no exterior em meio a novas ameaças tarifárias de Donald Trump.

A Vivenda Branca confirmou durante a tarde que as tarifas comerciais de 25% sobre importações de produtos do México e Canadá entram em vigor na próxima terça, 4 de março. Agora, é a União Europeia que está na mira de Trump.