O que um zero à esquerda pode fazer por você
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Adoro ditados populares. Sempre recorro a eles para explicar um tanto. De grão em grão a penosa enche o papo; seguro morreu de velho; quem tudo quer, tudo perde; mais vale um pássaro na mão do que dois voando; o barato sai dispendioso; nem tudo que reluz é ouro… e por aí vai. Esse meu sabor é tão divulgado que ganhei, tempos detrás, um livro — interessantíssimo, por sinal — que explica a origem de boa secção deles.
Muitos se aplicam porquê uma luva quando o objecto é finanças, principalmente na semana passada, quando o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a Selic em 0,25 ponto percentual. Pode parecer pouco, mas estamos falando do maior patamar em quase duas décadas.
E foi aí que me veio à cabeça uma frase que não é exatamente um ditado, mas que encaixa perfeitamente cá: “um zero à esquerda”. Na linguagem popular, esse “zero” é sinônimo de irrelevância. Um pouco que está ali, mas não muda zero. Será, porém, que esse 0,25 de aumento na taxa básica de juros é mesmo tão inofensivo assim? Já adianto: não é.
A diferença, no presente, pouco se vê, mas o tempo a amplifica. Um investimento de R$ 10 milénio aplicado por 20 anos, rendendo exatamente a Selic a 14,75% ao ano, resulta em um montante de R$ 156.694,55 no final do período. Já esse mesmo valor investido a 15% ao ano, o saldo final será de R$ 163.665,37. Uma diferença de R$ 6.970,82 — equivalente a quase cinco salários mínimos, sem que se tenha feito nenhum esforço financeiro suplementar.
O clássico “de grão em grão” se encaixa perfeitamente, pois no mundo dos juros compostos, quando eles jogam em prol, o que parece pequeno vira significativo com o passar do tempo. Cá, a paciência se torna amiga da eficiência financeira, porque o tempo é o melhor remédio e, lentamente, é provável chegar mais longe.
Agora, quando o zero está na posição contrária, a coisa muda de figura: na chuva que parece mansa, é provável se afogar. Do lado da dívida, o impacto é brutal, já que a taxa média do rotativo do cartão de crédito — modalidade responsável pela maior secção do endividamento no Brasil — já ultrapassa 400% ao ano. Com tantos zeros à direita, basta uma vírgula para a dívida explodir.
O poder do zero à esquerda se torna bastante significativo, oferecido que a ração do aumento na taxa dos empréstimos, em universal, não é proporcional ao aumento nos juros pagos nos investimentos. A definição do seu dispêndio é influenciada por diversos fatores porquê inadimplência, risco, premência de captação, garantias e concorrência e não somente a variação da Selic.
Um cláusula publicado pela PUC-Rio, de Pedro Castro e João Manuel Pinho de Mello, chamado “há assimetria no repasse de juros bancários de variações na Taxa Selic?“, aponta que o repasse do aumento da taxa básica aos empréstimos é significativamente mais intenso do que nas quedas. Os coeficientes de repasse estimados por eles foi de 0,95 no caso do cheque próprio e de 1,44 no caso do cartão de crédito. Ou seja, segundo a estudo, o renda cobrado por essas modalidades subiria 0,24 ponto percentual ao ano no cheque próprio e 0,36 ponto percentual no cartão — mesmo quando os repasses parecem coisa de “zero à esquerda”.
Ignorar os pequenos números custa dispendioso — e pesa no bolso. Nos investimentos, pode valer menos independência, menos tranquilidade, menos tempo. Nas dívidas, mais aperto, mais estresse e mais submissão do quantia dispendioso.
O zero à esquerda pode até parecer inofensivo, mas não é. A depender do lado em que se está, ele pode ser a diferença entre viver tranquilo e viver no vermelho. E daí vale a máxima de que, quem não tem cabeça para pensar, precisa ter bolso para remunerar.
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