Por que investidores reagiram com demorado ao Copom, derrubando a bolsa?

• O Ibovespa despencou 2,4%, na mínima do dia, nos 158.578 pontos. O índice está com perda de 1,37% na semana e, no mês de dezembro, caiu 0,32% até cá. Neste ano, a valorização da carteira recuou a 31,82%.

O revérbero dos investidores parece moroso porque a ata do Copom publicada hoje não trouxe muita novidade em relação ao enviado divulgado com a decisão sobre os juros na quarta-feira passada.

Mas o texto do novo documento mudou o cenário num paisagem: negou ao investidor de renda variável o sonho com um namoro na Selic em janeiro.

• A taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 saiu de 13,64% para 13,68% ao ano. Prêmios em contratos de pequeno prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 saíram de 12,98% para 13,10% ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa oscilou de 13,33% para 13,43%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

“Esse cenário explica o estresse observado no mercado hoje, em um movimento de correção depois uma sequência de altas recentes. Secção do ajuste é técnico, mas o tecido de fundo é claramente macroeconômico, com frustração em relação à política monetária”, avalia Leonardo Santana, sócio da mansão de estudo Top Gain.

Mas as leituras de alguns agentes já estavam alinhadas com a do Banco Meão sobre o cenário econômico, logo suas expectativas não teriam a capacidade de mexer no rumo dos ativos locais.

• O giro financeiro do Ibovespa ficou em R$ 21,4 bilhões hoje, 31% supra da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,3 bilhões.

Só que aqueles que esperavam queda nos juros já na próxima reunião do Copom tiveram mais uma logro: dados do relatório do mercado de trabalho dos Estados Unidos mostraram uma atividade mais potente que esperado.

O cenário reforça o cenário de projeção do Federalista Reserve (Fed, o banco médio americano) de exclusivamente mais um namoro nos juros ano que vem. E se as taxas caem menos que a expectativa lá (o mercado ainda aposta em espaço para dois cortes nos EUA em 2026), a pressão sobre a Selic pode ser maior que esperado.

• O dólar à vista avançou 0,73% nesta sessão, a R$ 5,46, na contramão do exterior. Na semana, a subida da moeda beirada 1% e, em dezembro, o proveito é de 2,4%. No ano, a moeda americana barateou 11,6% contra o real até cá.

“Mas o principal fator que impediu o real de colher os frutos da desvalorização do dólar foi a divulgação de novidade pesquisa eleitoral, a primeira que inclui Flávio Bolsonaro porquê candidato, e que sugere um cenário mais favorável à reeleição do presidente Lula. Com isso, os temores fiscais pesaram sobre os ativos locais, desvalorizando o real, enquanto a bolsa cai e a curva de juros deteriora”, aponta André Valério, economista sênior do Inter.

“Ainda assim, vemos um cenário de relativa firmeza. Esperamos que o câmbio convirja ao volta de R$5,40 até o termo do ano e mantemos expectativa de que o Copom namoro a Selic em janeiro, tendo em vista o cenário de deterioração da atividade econômica e de desinflação, com a perspectiva de surpresas baixistas no IPCA nas próximas leituras”, conclui.

A estranheza, no entanto, recai sobre a magnitude dos movimentos. Nenhuma notícia hoje foi estrondosa para justificar a potente penalização sobre os ativos locais. Ou não seria, se o mercado estivesse exclusivamente nas mãos de investidores discricionários.

Acontece que fundos quantitativos operados por robôs respondem por metade das negociações na bolsa hoje, porquê o jornal Valor mostrou cá. Muitos desses fundos seguem uma estratégia chamada trend following, que basicamente identifica e acompanha tendências no mercado.

Esse tipo de estratégia de investimento é agnóstica, ignora contexto de mercado, e secção da premissa que, numa tendência, o que está subindo deve continuar a subira, e o que está caindo deve continuar a desabar.

Neste sentido, esses fundos que empregam o trend following não puxam, mas amplificam movimentos no mercado.

Em postagem no seu perfil em redes sociais, Dan Kawa, sócio da We Capital, avalia que os “últimos dias foram marcados por uma potente volatilidade nos ativos brasileiros, um movimento que teve início com o pregão da candidatura de Flávio Bolsonaro, mas cuja intensidade parece refletir mais do que exclusivamente o noticiário político.”

Para ele, a combinação de um posicionamento previamente otimista dos fundos locais com a sazonalidade típica de final de ano criou um envolvente mais frágil e reativo, no qual qualquer novidade incerteza ganha dimensão ampliada. Para proteger os resultados positivos de seus fundos, gestores tendem a operar com margem de tolerância menor para quedas nos preços dos ativos (stops mais curtos, no jargão do mercado financeiro).

Logo a baixa tolerância desses investidores ao cenário macroeconômico e às quedas tende a inverter as tendências na renda variável. Essa mudança de sentido dos ativos acaba puxando os fundos trend followers, que vêm sempre a reboque do comportamento de manada, e ajudam a ampliar o direcional.

• Das 82 ações que compõem a carteira atualmente, 73 caíram hoje.