Por que o dólar caiu, mesmo com o pessimismo na bolsa?

• O dólar mercantil cedeu 0,4% contra o real, a R$ 5,45. Nesta semana e no mês, acumula 0,56% de ganhos. Do início do ano até cá, a moeda dos EUA ficou 11,77% mais barata para o brasílico.

A avaliação do real poderia sugerir um fluxo de recursos entrando no mercado brasílico. Primeiro porque a queda cá foi mais expressiva que a do dólar contra as principais moedas globais. O índice DXY, que mede a força da mote americana contra as das maiores economias desenvolvidas, recuou 0,15%.

Ou seja, entraram dólares na economia brasileira, mas não foi por meio da bolsa.

• O Ibovespa estendeu as perdas das últimas três sessões e cedeu 0,34% hoje, a 139.864 pontos. Nesta semana e no mês, acumula 1,1% de queda. Do primórdio do ano até cá, valorizou 16,3%.

A liquidez pífia da bolsa hoje, estendendo a tendência recente, também sugere um baixíssimo gosto ao risco por cá, reforçando essa teoria que os recursos vieram por outro via.

• O giro financeiro do Ibovespa foi de R$ 13,2 bilhões, 19% inferior da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,3 bilhões.

Já o barril do petróleo tipo Brent (referência mundial) derreteu 2,22% hoje, a US$ 67,60, com a viradela das expectativas do mercado pela decisão no encontro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) neste término de semana. Inicialmente, mesmo com o bombardeio de drones ucranianos a bases de petróleo russas, não estava previsto o proclamação de um aumento de produção.

Mas rumores do mercado provocaram uma guinada nessas perspectivas para o encontro de domingo. Segundo a filial internacional Reuters, a Opep+ consideraria volver o namoro de produção que corresponde sobre 1,6% da demanda mundial um ano antes do esperado.

Com isso, as ações das petrolíferas afundaram em conjunto. As ações da Petrobras recuaram murado de 1%. Mas não exclusivamente elas.

• Das 84 ações que compõem o Ibovespa atualmente, 54 desvalorizaram nesta sessão.

Todo o quadro desenha um cenário pessimista para investimentos no mercado lugar. Mas uma classe mantém seu apelo ao investidor estrangeiro: títulos da dívida soberana do Brasil.

• A taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 saiu de 13,99% para 14% ao ano. Prêmios em contratos de pequeno prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 seguiram em 13,32% ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa subiu de 13,84% para 13,82% ao ano. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

Os dólares que sustentaram a valorização cambial nesta sessão entraram pelos títulos de dívida. Primeiro com o reforço das apostas na queda dos juros nos Estados Unidos, o que torna a renda fixa americana menos sedutor enquanto a Selic segue em 15% ao ano pelo menos até o término de 2025 – ou mais adiante.

Mas o principal via de atração dos dólares foi a emissão do novo título do Tesouro Pátrio no exterior. Os papéis atrelados ao IPCA com vencimento em 12 de janeiro de 2056 captaram US$ 2,5 bilhões lá fora e, com a elevada concorrência pelo ativo, saiu com juros a 7,5%, contra o cupom inicial anunciado em 7,75% ao ano.

De tratado com o Tesouro, as taxas ficaram próximas às de países com intensidade de investimento, e a demanda dos investidores superou em murado de 2,6 vezes o volume emitido. E os maiores interessados foram os investidores estrangeiros, dos quais murado de 90% são da Europa e da América do Setentrião.

Ainda segundo o órgão, leste foi o menor prêmio de risco para um título de 30 anos desde 2014. Já a operação do segundo título emitido ontem, em lote menor e com vencimento em 6 de novembro de 2030, levantou US$ 750 milhões.

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