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Quando legado não é sobre verba

Quando legado não é sobre verba

Quando legado não é sobre verba

Quando legado não é sobre verba

Na semana passada participei de um evento bastante interessante sobre investimentos internacionais (Avenue Connection). Eventos assim são carregados de teor, especialistas de diversas áreas falando de tudo um pouco ou de muito sobre pouco. Ou seja, de maneira muito mais profunda do que o habitual. Esse não foi dissemelhante, para o meu delícia. Entre o cardápio farto apresentado nos dois dias de evento, um teor, em próprio, me chamou bastante atenção. Foi a palestra de Amy Osborne, consultora sênior da Franklin Templeton. Ela falou sobre Transferência de riqueza geracional. Tema, aliás que muito me atrai.

De faceta ela já mandou: “Quando falamos de investimentos, por trás dos gráficos estão as nossas famílias, os nossos herdeiros, aqueles que amamos.” Se ela concluísse a apresentação aí, ela já teria oferecido o recado. Desse ponto em diante, a palestra sobre legado e uma vez que levar a riqueza de uma geração para a outra deixou de ser sobre números e planilhas e passou a ser sobre gente.

E os números dessa gente impressionam. Segundo Amy são oito gerações vivendo atualmente no mundo. Dessas, há concentração de riqueza em quatro: os silent generation (nascidos entre 1928 e 1945), baby boomers (entre 1946 e 1964), gen X (entre 1965 e 1980) e millennials (entre 1981 e 1996). Da riqueza global 75% estão nas mãos dos baby boomers. Isso fará com que em menos de 20 anos, acontecerá a maior transferência de riqueza da história, com trilhões de dólares mudando das mãos desses vovôs para as gerações mais jovens.

O que parece uma coisa simples, que pode ser resolvida nas mesas de advogados e especialistas em sucessão patrimonial, esconde um dilema sobre uma vez que preparar as gerações mais jovens – e outras nem tão jovens assim – para essa transição. São gerações que convivem, mas não necessariamente compartilham dos mesmos valores, conceitos e preceitos em relação ao verba.

Segundo a profissional, os boomers valorizam performance e consomem estatísticas macroeconômicas ao investir. Já os millennials olham para propósitos e impacto do verba investido. São eles também os mais abertos a buscar orientação profissional, enxergando o planejamento financeiro não uma vez que um luxo, mas uma vez que um caminho para prometer bem-estar e liberdade. Os caçulas da geração Z, embora ainda jovens, investem cedo e tem objetivos claros: viajar, formar uma suplente de emergência e prometer a liberdade de escolher quando – ou se – querem se reformar.

Nesse choque de geracional de intenções e motivações, o caminho é conseguir fabricar um meio de conversa sobre legado. Sem isso, esse processo pode ser difícil e bastante doloroso.

Ano pretérito, escrevi uma pilar por cá (Legado: um presente ou um fardo detrás?), falando sobre uma vez que uma legado, que parece ser alguma coisa que todo mundo espera um dia receber, pode se tornar um problema quando não se coloca na mesa os interessados para um papo franco e direto. Nesse texto eu falo que uma legado é um presente quando ela é planejada e esse planejamento é compartilhado com os beneficiários.

É dessa forma que eles têm a oportunidade de entender o tamanho da responsabilidade e se preparam para fazer melhor uso dos recursos herdados. Falo também que uma legado é um presente, quando os herdeiros têm a liberdade para usar os recursos uma vez que melhor lhes convier. Do contrário, pode se tornar um grande fardo.

Amy, em sua palestra, propôs práticas simples que podem mudar a dinâmica familiar nesse objecto. A primeira delas é marcar encontros regulares para falar sobre verba – coisa que por si só, já é um enorme duelo. Mas conversar sobre sonhos e planos de cada membro da família e as partes interessadas é crucial, apesar de muito desconfortável. Um pode querer tocar os negócios da família, enquanto outro deseja mochilar pelo mundo sem rumo. Respeitar desejos e vontades, dos dois lados, é mandatório para que a transferência de riqueza aconteça da melhor forma.

O resumo dessa conversa toda é que legado, definitivamente não é só sobre verba. Fácil seria se sobre isso unicamente fosse. É sobre valores, histórias, porvir, conflitos, preferências. Preferências que serão questionados, julgadas e colocadas a prova. Pode ser lavação de roupa suja, mas pode ser também sobre legado, união, perpetuação. Mais uma coisa é certe: só é provável saber uma vez que será, se o processo todo principiar com uma bela conversa ao pé do ouvido.

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Ana Leoni — Foto: Arte/Valor

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