Quando os juros cederem, mercado de ações terá novidade forma
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_f035dd6fd91c438fa04ab718d608bbaa/internal_photos/bs/2025/z/3/j58cw0QNamQHU8srBmuQ/imagemcolunistafabiocoelho.jpg?ssl=1)
O longo período de juros elevados tem funcionado porquê um teste de resiliência para o mercado de ações. A renda fixa rapidamente retomou o protagonismo das captações e as tradicionais casas de gestão ativa, pressionadas por resgates, tiveram que combinar medidas porquê a reorganização de equipes e a reavaliação de teses de valor e formas de distribuição.
Quando a taxa básica finalmente iniciar uma trajetória mais consistente de queda, os tradicionais fundos de ações (FIAs) e multimercados certamente voltarão a captar, e a tendência é que esses carros-chefes comecem a dividir espaço nos portfólios de risco com fundos negociados em bolsa, os chamados ETFs (Exchange Traded Funds). E a experiência internacional nos oferece pistas de porquê essa convívio pode evoluir.
A gestão ativa no padrão tradicional, com taxas de gestão e performance, tem tudo para continuar relevante. Em um mercado que costuma apresentar ineficiências e assimetrias informacionais frequentes, a habilidade e a reputação de gestores em identificar oportunidades seguirão porquê diferenciais. Em paralelo, esse padrão deve passar a conviver com uma opção mais enxuta representada pelos ETFs, que normalmente replicam índices de ações.
Essa combinação tem se mostrado geral no exterior e começa a lucrar espaço também por cá. Estimativas da PwC indicam que o patrimônio global de ETFs cresceu de forma significativa em 2024 e pode flectir até o termo da dezena, impulsionado principalmente pela expansão do mercado americano, no qual poucos gestores concentram grandes volumes e influenciam debates relevantes de governança e de votação em assembleias de empresas investidas.
Em mercados mais sofisticados, o progresso também se explica pela adesão de investidores mais jovens, habituados a operar em plataformas digitais e inclinados a preferir soluções mais simples e com custos previsíveis. Para esse público, os ETFs se tornaram uma porta de ingressão procedente para o mercado financeiro por combinarem negociação contínua e entrada inesperado a carteiras diversificadas.
No Brasil, o desenvolvimento dos fundos de índice ocorreu de maneira mais gradual. O primeiro do tipo, o PIBB11, foi lançado em 2004. Replicando o IBrX-50, índice formado pelas 50 ações mais negociadas na B3, permaneceu restrito por muito tempo. O cenário mudou quando os investidores passaram a acessar fundos de índice do exterior, em 2020. A oferta se diversificou e, hoje, existe mais de uma centena de ETFs na B3 com exposição a diferentes classes de ativos, incluindo renda fixa. Ao todo, já são mais de 1,1 milhão de contas negociando esses ativos na bolsa brasileira.
A mudança no padrão de remuneração das assessorias de investimento pode apressar esse progresso. A transmigração do tradicional padrão de rebate para o fee-based permite que o consultor seja remunerado sem depender da percentagem de produtos específicos. Outros países já adotam esse conspiração há muitos anos e a diferença tende a facilitar a recomendação de carteiras compostas pelos fundos listados.
Esse tecido de fundo ajuda a explicar os motivos pelos quais esses produtos avançaram mesmo em um envolvente desfavorável para o mercado de ações no Brasil. Entre agosto de 2024 e julho de 2025, os ETFs cresceram 22%, segundo informa a Anbima. Em termos de captação, perderam só para a renda fixa, que segue porquê a classe de ativos que está puxando o mercado lugar. O resultado não se explica exclusivamente por preferências momentâneas, apontando para uma mudança mais ampla na forma porquê o investidor quer acessar o risco de mercado.
Embora esse desenvolvimento seja relevante, o volume ainda é relativamente pequeno dentro da indústria de fundos lugar. O patrimônio dos ETFs permanece perto de R$ 62 bilhões, representando menos de 1% da indústria de fundos, ainda segundo a Anbima. Os maiores clientes são investidores institucionais, em procura de diversificação ou redução de custos operacionais.
A indústria continua a se reorganizar sob o impacto da tecnologia, da evolução regulatória e da maior presença da pessoa física. Com a queda dos juros, esse movimento tende a lucrar ritmo e aproximar fundos multimercados, FIAs e ETFs nas carteiras de risco. A pluralidade de caminhos oferecida ao investidor talvez seja o sinal mais nítido de que o mercado brasiliano pode estar caminhando para uma tempo mais madura.
Fábio Coelho é presidente-executivo da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec)
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_f035dd6fd91c438fa04ab718d608bbaa/internal_photos/bs/2025/z/3/j58cw0QNamQHU8srBmuQ/imagemcolunistafabiocoelho.jpg)
Publicar comentário