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Quem protege o investidor dele mesmo e dos outros?

Quem protege o investidor dele mesmo e dos outros?

Quem protege o investidor dele mesmo e dos outros?

Quem protege o investidor dele mesmo e dos outros?

Recentemente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump afirmou, sem qualquer comprovação científica, que o uso do medicamento Tylenol (paracetamol) durante a gravidez e a emprego de vacinas estariam ligados a um aumento no número de casos de autismo no país. Difícil de imaginar os motivos para alguém fazer alguma coisa deste tipo, mas vivemos dias estranhos em que a desinformação rende muitos dividendos políticos e financeiros para muita gente.

O resultado objetivo e inopino desta enunciação foi provocar o pânico entre mulhares grávidas e, para o horizonte, semear o pavor que contribuirá para reduzir ainda mais os números da cobertura vacinal entre as crianças.

Informações uma vez que esta espalham pavor, tendem a se reproduzir entre as pessoas e a produzir uma imagem que aos poucos vai edificar uma memória em que vacinas estarão associadas a autismo.

Pode parecer mero enlevo retórico disparatado, mas, em tempos uma vez que os atuais, tendo a descobrir que faz segmento de uma estratégia dos quais reforço à memória é uma peça da engrenagem de marketing, um apelo a heurística da disponibilidade.

Daniel Kahneman e Amos Tversky identificaram e definiram a heurística da disponibilidade em item clássico de 1973, em que publicaram o resultado de suas primeiras pesquisas sobre o tema.

Entre estes experimentos eles solicitaram a grupos de pessoas que adivinhassem quantas palavras, entre as 2.000 últimas de um livro, terminavam com as letras NDO. Estas são palavras que afluem rapidamente da memória, elas são facilmente disponíveis.

Para alguns grupos a pergunta foi sobre quantas palavras tem a letra N na penúltima posição. É fácil de imaginar que em nosso cérebro não existe um lugar próprio para vigilar esta informação.

O mais curioso, mas, é que, em média, as pessoas calcularam subsistir 5 palavras com N na penúltima posição e 13,5 palavras terminando com NDO. Por definição, uma vez que a letra N está dentro do grupo formado por NDO, fica simples que é muito mais fácil restabelecer imagens da memória do que fazer cálculos ou recorrer a lógica.

A construção de imagens que transmitem sensações e crenças é muito generalidade no marketing e campanhas de venda. No mercado financeiro e de investimentos, em universal damos mais atenção aos produtos e, consequentemente, dedicamos mais tempo as análises de risco, retorno e efeitos da diversificação, aonde a heurística da disponibilidade é menos evidente. Porém, em processos de venda e distribuição ela está muito presente.

Rankings são um bom exemplo. Dois tipos destes relatórios são muito comuns, quais sejam, o de rentabilidade e o de vendas. O primeiro é mais usual. Ao elencar os fundos campeões, ele tenta transmitir a sensação de que o desempenho pretérito se repetirá no horizonte, e que a aposta neles é uma verdadeira barbada.

Já o segundo, ao indicar os mais vendidos, procura reduzir a sensação de risco. Comprar um fundo que “todos” estão comprando é uma forma de tranquilizar a sensação de remorso em caso de perda, finalmente errar em meio a povo é uma forma de reduzir a dor.

Influencers também se valem da heurística da disponibilidade. Neste caso, eles recorrem ao storytelling sobre sucesso obtido na gestão de seus investimentos para produzir uma imagem que consolide no público a imagem de domínio. A estratégia é substanciar em nossa memória a associação entre sucesso nos investimentos e a pessoa do influencer. Na hora de investir, essa tende a ser das primeiras imagens recuperadas da memória.

Em determinadas situações pode ter sobreposição de efeitos entre a heurística da disponibilidade e da representatividade, abordada cá neste espaço na semana anterior. Isso é oriundo, o cérebro humano é formado por muitas partes, todas interrelacionadas e atuando em conjunto.

A principal particularidade da disponibilidade é produzir na memória fatos e imagens mais vívidas e presentes que sejam mais fácil e rapidamente recuperadas. Um exemplo muito sabido são as pesquisas sobre causas mais comuns para mortes. Os resultados delas indicam que as pessoas julgam ser mais generalidade morrer de ataques de tubarão do que de acidentes aéreos.

Porém, os números indicam que estes últimos são tapume de trinta vezes mais letais. O pavor de tubarões é alguma coisa generalidade desde a puerícia, provavelmente alguma coisa semeado em nosso cérebro desde tempos longínquos, uma questão de prontidão biológica, alguma coisa que tem a ver com ameaças a sobrevivência de nossos ancestrais.

Trabalho há mais de trinta anos com regulação e governança e já me acostumei a ouvir reclamações sobre os custos e obstáculos a inovação criados pelas regras no mercado de capitais. Concordo que o estabilidade não é simples, o tradeoff é multíplice. O risco de não tarar a mão é conviver com um imagem regulatório frouxo, que não preserve os interesses dos investidores e a competição saudável entre os players. No limite, essa postura leniente pode dar lugar a uma seleção adversa em que o mais “esperto” expulse o melhor, o que levaria ao encolhimento do próprio mercado. Esse é o tradeoff.

A heurística de disponibilidade e, também, a da representatividade, moldam nosso processo de julgamento e decisão, não somos tão racionais assim. É importante que a regulação consiga identificar, responsabilizar e penalizar aqueles que com uso de informações inverídicas ou manipuladas de forma a projetar falsas imagens levem as pessoas a tomar decisões equivocadas.

Hudson Bessa – Economista, sócio da HB Escola de Negócios e da Spot Capital Consultoria de Investimentos
hudson@hbescoladenegocios.com
www.hbescoladenegocios.com

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Hudson Bessa — Foto: Arte sobre foto/Divulgação

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