Sem IPOs há quase quatro anos, retomada das ofertas na B3 deve permanecer para 2027
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A bolsa brasileira vive o maior jejum de ofertas públicas iniciais (IPOs, na {sigla} em inglês) desde o início da série histórica, em 2004. A última operação do tipo ocorreu em dezembro de 2021, e a perspectiva é que a fileira continue travada pela combinação de juros altos e incertezas políticas que reduzem a atratividade da renda variável.
Especialistas projetam que a seca de ofertas deve se estender por mais 15 a 18 meses. No entanto, um catalisador para a reabertura da janela para os IPOs tem data marcada: entre outubro e novembro do ano que vem. A eleição de um governo fiscalmente responsável poderia atrair capital e destravar a fileira dos IPOs entre o termo de 2026 ou início de 2027.
Rafael Oliveira, gestor dos fundos de ações da Kinea, explica que essa agenda é crucial para atrair o investidor estrangeiro de longo prazo, um perfil que efetivamente participa de IPOs. “A eleição de um presidente e de um Congresso preocupado com as finanças públicas põe termo ao imbróglio político”, afirma.
Isso, portanto, abriria espaço para quedas de juros mais sustentáveis. E juros mais baixos sempre tornam a renda variável mais simpático, o que significa mais investidores com gosto para ações já listadas na B3 ou estreantes que estão por vir.
A crença nesse horizonte faz com que Oliveira defenda oriente porquê um bom momento para investir na bolsa brasileira. “É uma mistura de ‘terreno arrasada’ com ‘luz no termo do túnel’: preços muito comprimidos e um porvir promissor.”
Mas o gestor não consegue vislumbrar a retomada da captação de forma expressiva nos fundos de ações antes das eleições federais – ou até que o cenário político fique mais evidente. Logo, com os fundos de ações e multimercado sem capital na indústria porquê um todo e com investidores ainda avessos ao risco, os quatro anos de jejum de ofertas públicas na bolsa podem se transformar em cinco anos – possivelmente até seis anos.
O mercado vive um impasse: de um lado, empresários se recusam a vender suas companhias a preços baixos. O múltiplo de preço sobre lucro (P/L) do Ibovespa, que estima o tempo de retorno de um investimento em anos, está em torno de 9 vezes, muito inferior da média histórica de 11 e dos picos de 20 vezes vistos em 2021. Quanto menor esse número, mais desvalorizadas estão as ações e empresário nenhum quer vender um pedaço da sua empresa na bolsa recebendo pouco por esse quinhão.
Do outro lado está a demanda (leia-se, os investidores) que, com a Selic em 15% ao ano, não tem gosto para remunerar mais dispendioso por ações, preferindo a segurança e o retorno dos títulos de renda fixa.
“Porquê o cotista está, de maneira universal, menos paciente para ver os retornos, as estratégias também ficam mais focadas no limitado prazo”, revela o gestor de ações da Kinea. Essa aversão ao risco é amplificada pelas cicatrizes da última janela de euforia na bolsa.
Com a renda variável anabolizada diante de uma Selic na mínima histórica (2% ao ano), 74 empresas que fizeram IPO na bolsa captaram R$ 109,6 bilhões ao todo na última janela de mercado, tendo 2021 encerrado o período com o recorde de ofertas públicas em um ano. Mas muitos desses negócios não estavam maduros para terebrar capital na bolsa.
O resultado deixou uma cicatriz nas carteiras dos investidores que entraram nesses IPOs: 61% das ações dessas novatas desvalorizaram entre a data de estreia até o dia 19 de setembro, e 14 (19%) das empresas saíram da bolsa de lá para cá. Ou seja, um balanço pra lá de negativo.
O agravamento do cenário macro, marcado pela escalada da Selic dos 2% até os 13,75% em menos de um ano e meio, engatilhou a debandada da renda variável. Assim, o volume de negociação do Ibovespa caiu de R$ 30 bilhões diários para muro de R$ 16 bilhões e o gosto dos investidores por novas ações foi a reboque.
Esse giro financeiro também peca em qualidade: metade das operações com ações atualmente é feita por robôs de subida frequência. Essas ferramentas são usadas por investidores focados no limitado prazo que, para isso, lançam mão de estratégias quantitativas. Por isso, esses agentes não participam de IPOs.
“A queda do giro de muitas ações reduziu o universo de empresas ‘investíveis’ para fundos que, assim porquê os nossos fundos, usam esses critérios para a gestão de risco”, conta Oliveira.
Enquanto isso, o universo de empresas na bolsa também ficou muro de 10% menor, graças à reversão dos IPOs, a exemplo da obtenção da Getninjas e da fusão do Grupo Soma (com a Arezzo), que abriram capital na última janela. No termo de 2021, 463 companhias tinham o capital listado e negociado na bolsa brasileira, contra 416 atualmente, de pacto com a B3.
Para Victor Baptistin, sócio da superfície de mercado de capitais do Dias Carneiro Advogados, a tendência de as empresas fecharem capital deve continuar pelo menos por oriente e pelo próximo ano, porquê secção de uma procura por eficiência para os investidores, o que passaria por novas estratégias e redução de custos em um momento de correção de valores na bolsa.
Na pouquidade de IPOs ou ofertas subsequentes de ações, empresas têm recorrido a operações estruturadas, porquê a emissão de debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e do Agronegócio (CRAs), para esticar as dívidas, conta Haroldo Machado, sócio da TCP Partners e professor do Ibmec-Rio.
“Outro movimento que cresceu nos últimos anos foi o de recompra de ações pelas tesourarias das empresas emissoras. O gestor enxerga que o ativo da própria empresa está subestimado, mas o mercado segue sem gosto por ele, logo a recompra vira uma forma de sublevar o valor para o acionista”, diz Machado.
O patamar exato para a Selic engatilhar a tomada de risco é incerto em um cenário global mais inflacionário. Segundo os especialistas, a janela para novos IPOs só reabrirá quando os múltiplos das ações listadas subirem a ponto de os gestores sentirem desconforto de remunerar dispendioso, o que incentiva a procura por novas empresas na bolsa.
De qualquer forma, quando a fileira de IPOs andejar, o mercado brasiliano estará mais seletivo. A expectativa é que a primeira leva seja puxada por companhias maiores, de setores resilientes porquê força, infraestrutura, saneamento e agronegócio. Isso no primeiro momento.
Bruce Barbosa, sócio-fundador Nord Investimentos, acredita que, numa segunda lanço, a tendência é de os investidores, infelizmente, repetirem erros do último ciclo. “O mercado é assim. Ele primeiro prioriza a rentabilidade. Mas conforme as empresas ficam muito concorridas, ele vai se abrindo a todos os tipos de teses”, o que signfica comprar papéis de boa qualidade, mas também daquelas com qualidade duvidosa. Essa é a hora que a janela de mercado se parece muito mais com um grande portão: entram muitas empresas na bolsa, as boas e as nem tão boas assim.
Mas, para Baptistin, as empresas de tecnologia, por exemplo, não conseguirão mais terebrar capital baseadas exclusivamente em promessas de desenvolvimento porvir. Segundo o sócio do Dias Carneiro Advogados, o mercado agora exige solidez financeira comprovada, o que faz com que as candidatas a IPO neste setor precisem apresentar “teses mais consolidadas, com receita recorrente e até lucratividade”.
Dessa forma, as empresas de tecnologia e varejo, estrelas da vaga anterior de IPOs, enfrentarão um escrutínio maior, com foco em lucratividade em vez de exclusivamente desenvolvimento. É uma mudança de paradigma porque o mercado, segundo Baptistin, não comporta mais os múltiplos históricos porquê os vistos nos últimos IPOs. Em vez disso, o mercado buscará “uma tese de uma empresa que se provou resiliente durante os anos de juros altos“.
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