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Tamanho do estrago feito nos Fiagros impressiona

Tamanho do estrago feito nos Fiagros impressiona

Tamanho do estrago feito nos Fiagros impressiona

Tamanho do estrago feito nos Fiagros impressiona

Os Fundos de Investimentos em Cadeias Agroindustriais (Fiagros) ainda sentem os efeitos da crise do agronegócio de 2024. Pelo menos nove deles entre os mais negociados na bolsa, enfrentam situações de atraso de pagamento, desenquadramento de garantias ou de pedido de dispensa de obrigações. Com os problemas de crédito que acenderam uma luz amarela na classe em 2024, algumas carteiras chegaram a desvalorizar nada menos que 50%.

Pois é, a metade. Evaporou. Bastante coisa, né?

O número faz parte de um estudo feito por Guilherme Sharovsky, da Bloxs Capital. Para a análise, o especialista considerou apenas os Fiagros listados e com liquidez na bolsa do Brasil, a B3, com volume de negociação entre R$ 50 mil e R$ 100 mil por dia.

Foram encontrados 27 fundos do agronegócio com patrimônio líquido (PL) total de R$ 10 bilhões, dos quais nove carregam em seus portfólios títulos de renda fixa com alguma situação de calote. Os Fiagros afetados têm patrimônio de R$ 2 bilhões, sendo que as posições inadimplentes totalizam R$ 179,6 milhões.

  • São ao menos oito Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) nesta situação: Castilhos, Mitre, Três Irmãos, Schenkel, Portal Agro, Piva, FIDC Caete, AgroGalaxy e Portal Agro.

Entre os fundos com exposição a esses ativos, o SFI Investimentos do Agronegócio Fiagro (IAGR11) tem mais da metade do seu patrimônio líquido investido nos CRAs Três Irmãos, Castilhos, Mitre e Piva. Dos R$ 18,1 milhões, R$ 10,8 milhões estão nos títulos de dívida dessas empresas.

O Galapagos Recebíveis do Agronegócio Fiagro (GCRA11) também tem parte relevante do seu patrimônio líquido em CRAs com algum problema financeiro. Ao todo, 34% da carteira do fundo está investida nos papéis das empresas Castilhos, Mitre, Três Irmãos, Schenkel e Portal Agro – as posições somam R$ 51,8 milhões, dos R$ 151,7 milhões de PL.

Fiagros mais líquidos da B3

Fundo Tem operação com “waiver”/atraso/desenquadramento de garantias? CRAs com problemas Corresponde a quantos % do PL do fundo
AAZQ11 Sim Agrogalaxy, FIDC Caete 2,66%
AGRX11 Sim Agrogalaxy 5,61%
BBGO11 Sim Agrogalaxy 4,90%
CPTR11 Sim Agrogalaxy 7,31%
CRAA11 Não
DCRA11 Não
EGAF11 Não
FGAA11 Não
GCRA11 Sim Castilhos, Mitre, Três irmãos, Schenkel, Portal Agro 34,17%
GRWA11 Não
HGAG11 Não
IAAG11 Não
IAGR11 Sim Três Irmãos, Castilho, Mitre, Piva 59,49%
JGPX11 Sim Agrogalaxy 8,27%
KNCA11 Não
KOPA11 Não
LSAG11 Não
NCRA11 Sim Castilhos 5,68%
NEXG11 Não
OIAG11 Não
PLCA11 Não
RURA11 Não
RZAG11 Não
SNAG11 Não
VCRA11 Não
VGIA11 Não
XPCA11 Sim Agrogalaxy 8,17%

Cabe lembrar que esses CRAs são títulos de renda fixa do setor agrícola vinculados, em sua maioria, aos produtores rurais, às cooperativas e a terceiros. Eles recorrem ao mercado de capitais com o objetivo de captar recursos para financiar a produção, comercialização e industrialização de produtos, insumos e máquinas no campo.

No último ano, a classe como um todo, e especialmente os fundos listados acima, precisou enfrentar os preços mais baixos das commodities agrícolas, sobretudo das mais negociadas no Brasil, como a soja e o milho. O cenário levou a uma compressão generalizada de margens ao longo de toda a cadeia do agronegócio.

Além dos desafios específicos do próprio setor, as adversidades climáticas foram um problema a mais que reduziram as estimativas de safra e de colheita. Nos Fiagros, a combinação desses eventos levou à queda generalizada dos preços das cotas dos fundos da categoria como um todo na B3.

Em 2024 até o dia 19 de dezembro, as cotas dos nove Fiagros com alguma situação de inadimplência caíram, em média, 40% no mercado secundário. Somente os fundos IAGR11 e GCRA11 tiveram perdas de 50% cada um. Por outro lado, o rendimento em dividendos (dividend yield, no termo em inglês) médio foi de 18,50%.

Preço da cota e dividendos anualizados dos nove Fiagros

Fundo Valor da cota no mercado secundário Rendimento em dividendos
AAZQ11 -34,18% 21,45%
AGRX11 -37,20% 19,21%
BBGO11 -29,80% 13,17%
CPTR11 -33,52% 15,41%
GCRA11 -50,04% 23,68%
IAGR11 -50,40% 10,80%
JGPX11 -47,93% 25,41%
NCRA11 -40,09% 18,61%
XPCA11 -37,57% 18,88%
Média -40,08% 18,50%

Esse é um bom exemplo de que dividendo elevado pode, em alguns casos, mascarar a real situação de um fundo.

Como o dividend yield é uma métrica que relaciona o retorno de proventos no passado com o valor atual das cotas (dividend yield = total pago em dividendos ÷ preço atual da cota x 100), a rentabilidade será maior em momentos de queda expressiva das cotas – como aconteceu com toda a classe ao longo do último ano.

Ao considerar os 27 fundos mais líquidos da B3, o preço das cotas caiu 29%, em média, menos do que o recuo registrado pelos Fiagros que enfrentam situações de inadimplência. O retorno de dividendos médio destes fundos foi de pouco mais de 17%.

O NEX Crédito Agro (NEXG11) foi o único fundo que registrou valorização ao longo do ano passado. Enquanto o valor das cotas subiu quase 23%, o retorno de dividendos ficou na casa dos 8%, bem abaixo da média.

Preço das cotas e dividendos anualizados dos Fiagros mais negociados na B3

Fundo Valor da cota no mercado secundário Rendimento em dividendos
AAZQ11 -34,18% 21,45%
AGRX11 -37,20% 19,21%
BBGO11 -29,80% 13,17%
CPTR11 -33,52% 15,41%
CRAA11 -15,71% 16,26%
DCRA11 -33,15% 20,70%
EGAF11 -21,68% 17,92%
FGAA11 -27,54% 17,60%
GCRA11 -50,04% 23,68%
GRWA11 -26,83% 15,83%
HGAG11 -48,98% 18,92%
IAAG11 -12,96% 15,40%
IAGR11 -50,40% 10,80%
JGPX11 -47,93% 25,41%
KNCA11 -23,52% 15,63%
KOPA11 -28,80% 10,46%
LSAG11 -32,70% 21,76%
NCRA11 -40,09% 18,61%
NEXG11 22,91% 8,36%
OIAG11 -26,89% 18,24%
PLCA11 -24,69% 17,27%
RURA11 -35,05% 16,26%
RZAG11 -22,38% 17,86%
SNAG11 -14,58% 14,23%
VCRA11 -40,44% 21,59%
VGIA11 -18,54% 18,37%
XPCA11 -37,57% 18,88%
Média -29,34% 17,38%

O cenário para o agronegócio em 2025 permanece incerto

Apesar de não englobar toda a cadeia, os preços das principais culturas ainda estão baixos e seguem pressionando as margens dos produtores. E dado que o cenário é de mais juros daqui para frente, o encarecimento da dívida pode dificultar a capacidade de pagamento de alguns devedores de Fiagros, sobretudo aqueles mais alavancados.

Em contrapartida, como as carteiras dos fundos do agronegócio são majoritariamente compostas por CRAs indexados ao CDI (índice que acompanha a variação da taxa básica de juros do país), a rentabilidade dos Fiagros deve aumentar em 2025. A recente escalada do dólar também favorece a classe, uma vez que torna os produtos brasileiros mais competitivos no mercado externo.

Ainda que esses dois fatores soprem a favor dos Fiagros, os investidores devem ter em mente que os fundos do agronegócio carregam em suas carteiras títulos de dívida com risco acima da média quando comparados a outros ativos, como os fundos imobiliários.

A Empiricus Research, que deixou de ter recomendação de compra para Fiagros em 2023, voltou a olhar para a classe neste ano, mas com um critério mais rigoroso de crédito. Na visão da casa de análise, houve uma melhora marginal no setor em razão de uma conjuntura mais favorável para a exportação e produção de grãos em 2025.

“Diante do desconto nos preços de alguns fundos, passamos a olhar para algumas opções de carteiras que podem oferecer oportunidades ao longo do ano”, destaca Caio Nabuco de Araújo, analista da Empiricus.

gettyimages-181890332 Tamanho do estrago feito nos Fiagros impressiona
— Foto: Getty Images

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