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Uma vitrine sem clarão

Uma vitrine sem clarão

Uma vitrine sem clarão

Uma vitrine sem clarão

Há poucas semanas, em minha estreia neste espaço, chamei a atenção para a oportunidade que pairava primeiro do mercado brasílico com a reforma do Novo Mercado (NM). A proposta da B3 a ser votada pelas companhias, ainda que com certas lacunas, era uma oportunidade de alinhar o mais importante segmento de listagem da bolsa às melhores práticas internacionais de governança corporativa. Com o resultado negativo do concurso, não unicamente a vitrine da governança no Brasil perde um pouco do clarão, porquê também exibe para o mundo a profundidade da crise em que mergulhamos.

Porquê detalhei na pilastra, a proposta era sim imperfeita, mas, no universal, avançava em temas importantes. Na visão dos investidores, várias sugestões de aprimoramento não geravam impacto financeiro e já estão consolidadas em outros mercados. Considerando o interesse legítimo da B3 na procura pela melhoria do envolvente de negócios, a repudiação de todos os 25 itens colocados em deliberação deixou um palato amargo para muitos atores envolvidos no projeto.

Segmento do mercado parece viver ainda o luto, advogando por respostas enérgicas e imediatistas porquê se houvesse uma queda de braço a ser travada com as empresas que rejeitaram integralmente os itens colocados em deliberação. Acredito, no entanto, que o momento pede reflexão. É preciso ouvir com atenção a contundente mensagem enviada pelas companhias.

A procura pela causa-raiz da não aprovação revela um cenário de múltiplas origens. Não se pode negar o poderoso impacto do ciclo monetário e seus reflexos na escassez de IPOs. Em outras palavras, com a Selic a 15% e as empresas enfrentando sérias dificuldades financeiras, as melhorias institucionais foram percebidas unicamente porquê núcleo de dispêndio, infelizmente. Não de maneira isolada, as circunstâncias econômicas surgem porquê uma das explicações para o revés, sendo que alguns avaliam que faltou sensibilidade para escolha do momento da reforma.

Em outra perspectiva, a recusa das companhias tem ainda poderoso componente de protesto. Tal porquê citado em atas das reuniões de diversos Conselhos de Gestão, o formato exigido para modificações das regras do NM gera evidente incômodo. Mas o indumentária é que o regulamento vigente foi minuciosamente respeitado e, ainda que existam críticas, é inegável que o sistema de votação cumpriu seu papel democrático. E é exatamente por conta desse envolvente de plena segurança jurídica que motivo surpresa a postura de conselheiros experientes que decidiram nem mesmo discutir os benefícios que muitas propostas trariam.

Da segmento dos investidores, há também lições aprendidas. Muitos optaram por uma abordagem de engajamento mais discreta junto às companhias durante a reforma do NM, e agora já mencionam o interesse pela divulgação de pedidos públicos de escora às pautas de governança.

Diante do atual contexto e do resultado significativo da votação, é difícil imaginar qualquer caminho de próximos passos que não busque um diálogo franco entre todos os envolvidos. Reabrir agora novidade discussão de maneira açodada poderia esgarçar ainda mais as relações entre diferentes atores do mercado de capitais.

Algumas ideias já circulam, porquê a geração de novo segmento de listagem ou a possibilidade de adoção voluntária das propostas oferecidas pela B3 pelas companhias que aprovaram grande número de itens. A nosso ver, essas ideias reduzem a força institucional do Novo Mercado, ao permitir que a imensa maioria das empresas simplesmente não adote práticas que já são vistas porquê critérios básicos no mundo da governança corporativa. Teriam ainda o efeito de limitado prazo de enfraquecer a já precária situação brasileira em índices globais, visto que muitos investidores teriam restrições para acessarem novos segmentos de listagem.

O mercado brasílico desperdiça uma chance de modernização, indo na contramão de esforços de países emergentes porquê a Coreia do Sul, que mobiliza a governança corporativa porquê utensílio para atrair investimentos. Em meio a condições políticas e monetárias adversas, a mensagem que o Brasil agora exibe para o mundo é a de um envolvente institucional e de negócios fragilizado nos mais diversos níveis.

O dispêndio de oportunidade da inação se perpetuará, somando-se ao da crise que, desta vez, não conseguimos superar. Se considerarmos experiências similares, deve levar muitos anos para que aprimoramentos semelhantes voltem a ser discutidos, mantendo as condições para que conflitos de interesse e lacunas de governança cada vez mais graves atinjam as próprias companhias. Até lá, o Novo Mercado seguirá porquê o principal segmento de governança do Brasil, mas, sem incerteza, muito aquém de seu potencial. .

Fábio Coelho é presidente-executivo da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec)

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Fábio Coelho — Foto: Fábio Coelho

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