Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) fogem de pessimismo e amortecem trambolhão do Ibovespa. Mas por quê?

• O Ibovespa recuou 0,8%, a 157.327 pontos. O índice está com perda de 2,14% na semana e, no mês de dezembro, caiu 1,1%. Neste ano até cá, a valorização da carteira recuou a 30,8%.

Segmento da frustração vem de pesquisas eleitorais. O fortalecimento do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) porquê pré-candidato às eleições presidenciais em 2026 mostrou um deslocamento do quadro em obséquio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já postulante à reeleição.

Esse quadro prenúncio, cada dia mais, pôr um ponto final no “trade Tarcísio”, um cenário em que o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seria o único nome da direita e, na teoria, o com mais chances de derrotar Lula nas urnas em 2026. Para os grandes investidores e gestores brasileiros, ele era o único capaz de produzir uma frente ampla entre centrão e direita e recrutar votos de eleitores indecisos, o que aumentaria as chances de o mercado financeiro optar um candidato desempenado com sua agenda (em prol de privatizações, reformista e fiscalista).

Sem Tarcísio nesse horizonte, a Faria Lima entende que há mais inflação e juros esperando a economia brasileira num porvir não tão distante.

• A taxa de Repositório Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 saiu de 13,68% para 13,83% ao ano. Prêmios em contratos de limitado prazo estão mais ligados às expectativas dos investidores para a Selic.
• No médio prazo, os retornos da taxa para janeiro de 2029 saíram de 13,10% para 13,33% ao ano.
• Já para janeiro de 2036, a taxa oscilou de 13,43% para 13,66%. Vencimentos com prazos mais longos refletem uma maior preocupação com calote do governo.

Mas os choques do cenário político doméstico somados ao mau humor global, que estrangula o gosto ao risco, poderiam ter derrubado a bolsa muito além.

• Das 82 ações que compõem a carteira atualmente, 69 caíram hoje.

O colchão para a bolsa brasileira hoje foram Vale e Petrobras, dois pesos-pesados cujos papéis, somados, respondem por 22% da carteira teórica do Ibovespa.

A subida dessas ações tem várias explicações, mas a principal delas é de ordem técnica: a data de vencimento mensal de contratos de opções se aproxima, é o dia 19 de dezembro, esta sexta-feira.

• O giro financeiro do Ibovespa ficou em R$ 24,7 bilhões hoje, 52% supra da média diária dos últimos 12 meses, de R$ 16,3 bilhões.

Trocando em miúdos, as opções são contratos que dão a quem os compra o recta de negociar um ativo por um preço fixo em uma data futura. São bastante usados em estratégias mais especulativas ou para proteção da carteira. Quem adquire um contrato de opção com recta de compra espera que esse ativo se valorize supra do preço fixado em contrato, assim poderá comprá-lo “com desconto”. Já no contrato de venda, a perspectiva desse especulador é que o ativo desvalorize além do esperado, assim ele pode vendê-lo por um preço maior.

O titular pode ou não exercitar esse recta até a data de vencimento dos contratos. Caso não o faça, por ter “apostado inverídico”, ele fica unicamente com o ônus de remunerar o prêmio, um valor cobrado para comprar o recta da opção.

No caso da Vale, a ação passou do preço-alvo médio das opções de compra, o que faz com que muitos investidores que haviam adquirido a opção de compra para o papel exercessem esse recta.

Os strikes (preços-alvo, firmados em contrato de opções) para as ações da mineradora estão travados entre R$ 68 a quem adquiriu o recta de compra e R$ 66 para o recta de venda. A Vale está se valorizando na bolsa há algumas sessões, com impulso dos dividendos promoção das recomendações para o ativo. Nessa toada, ontem, ela ultrapassou os R$ 68, por isso há muitos investidores de opções exercendo seus direitos nesses últimos dias.

São investidores comprando a ação para prometer a entrega na sexta-feira, o que gera uma pressão compradora que sustenta o preço supra dos R$ 68 e cria mais demanda pelo ativo. Com um fechamento em R$ 70,17 posteriormente subida de 1,27% nesta sessão, o volume financeiro movimentado pela ação VALE3 ficou 57% da média diária neste ano.

• O dólar à vista avançou 1,09% e fechou o dia na maior cotação desde 1º de agosto, a R$ 5,52. Na semana, a subida da moeda passa de 2% e, em dezembro, o lucro é de 3,5%. No ano até cá, a moeda americana recuou 10,64% contra o real.

Já para a Petrobras, a explicação para a subida passa por fundamentos macroeconômicos e setoriais. Além da subida do dólar, que sugere um horizonte financeiramente mais favorável para as exportadoras, a principal razão para a estirada em conjunto das petrolíferas foi a valorização do petróleo Brent (referência global), puxado pela elevação das tensões entre Estados Unidos e Venezuela.

O presidente americano Donald Trump ordenou o bloqueio totalidade de petroleiros sancionados da Venezuela e classificou o governo Maduro porquê organização terrorista. Isso gera uma pressão de subida no preço da commodity no mercado internacional e, segmento, também beneficia a Petrobras porquê fornecedora opção segura na América do Sul.