Veja as 10 maiores altas do Ibovespa em fevereiro

Dentre as ações que ainda assim conseguiram se realçar dentro do índice, fica simples que as valorizações mensais ocorreram no envolvente microeconômico (no contexto das empresas) e apontam para investidores focados muito no pequeno prazo, diz Rafael Furlan, sócio da Setentrião Asset Management.

“A possibilidade de uma mudança em 2026 ajudou a curva de juros longos a se fechar e essa descompressão foi boa para os setores mais voláteis e alavancados. Vimos um movimento poderoso de stock picking (estratégia de selecionar ações pontuais com potencial de valorização e que estão sendo negociadas a um preço menor para revendê-las quando suas cotações subirem)”, diz.

“Apesar de descobrir um pouco cedo para essa discussão sobre eleições, o movimento dos juros atraiu atenção frente ao cenário americano, que teve um mês bastante negativo. Mas, fundamentalmente, o cenário da bolsa brasileira não mudou e os investidores ainda precisam mourejar com os mesmos problemas e riscos fiscais do país”, complementa.

E quais são as ações que tiveram os maiores ganhos?

A subida de 17,12% em fevereiro do Carrefour é explicada por dois momentos. Até o dia 10 de fevereiro, o conforto nas taxas dos contratos futuros de juros de longo prazo (que começaram o ano no patamar de 16% e agora estão próximos de 14,5%) trouxeram qualquer otimismo para os papéis de empresas de consumo não-cíclicas domésticas. “É um setor com margem de lucro muito baixa, e no caso do Carrefour a margem é de 1% ou 1,5%, portanto qualquer conforto que você dá em termos de rentabilidade acaba sendo muito bom”, explica Renato Reis, comentador fundamentalista na Blue3 Research.

No dia 11, no entanto, notícias sobre a intenção da matriz do Carrefour de realizar o fechamento de capital de sua subsidiária no Brasil agitou os investidores e levou o papel a ter valorização diária de 11%. Ou seja, desse encontro entre a ação que começou o mês em subida e a oferta, o Carrefour conseguiu se manter num patamar cima e ser uma das maiores altas do ano até cá.

Mas, Adriano Delfino, profissional em renda variável na Fami Capital, pontua que o preço da proposta de R$ 7,70 por ação, embora o preço da proposta seja 32,4% supra sobre o preço médio ponderado pelo volume nos 30 dias anteriores a data da proposta, não agradou o mercado. ““O resultado da operação no Brasil é a principal do grupo Carrefour, representando 22% da receita líquida e 33% do lucro operacional, que também está na Espanha, Bélgica, Itália, Romênia, Polônia e Argentina. O valor de R$ R$ 7,70 por ação é subordinado ao valor patrimonial da ação, de R$ 9 e da ponta do do buy-side (a ponta compradora, gestoras e outros agentes investidores) que considera um valor justo por volta de R$ 13”.

A Embraer gabaritou o ano de 2024 no quesito resultados positivos. Os dados do quarto tri, divulgados ontem, justificam a presença da companhia na lista das maiores valorizações dentro do Ibovespa em fevereiro. Com fôlego que parece não terminar – no último ano, os papéis da operário de aviões decolaram zero menos que 150% – a empresa mostrou, mais uma vez, uma agenda de pedidos muito fortes, diz Rafael Furlan, sócio da Setentrião Asset Management. Isto foi o suficiente para indemnizar um mês que não foi tão positivo para as empresas com receitas dolarizadas, porquê JBS, WEG e Vale, pontua.

Segundo o J.P. Morgan, os resultados da Embraer são um gatilho positivo para os papéis da companhia. “As ações da empresa são negociadas a múltiplos mais baixos que os de seus pares, porquê Boeing e Airbus, o que cria um potencial de valorização considerável”, destacam os analistas Marcelo Motta, Jonathan e Seth Seifman. O banco americano tem recomendação de compra para a Embraer, com preço-alvo de R$ 78.

A variação positiva de 10% da Ambev é outro exemplo de que a dinâmica de acontecimentos da empresa se sobrepôs ao cenário macro da bolsa. Os analistas e gestores, que mantinham baixas expectativas para os números trimestrais, foram surpreendidos por alguns pontos de melhora no balanço reportado. A receita líquida foi de R$ 27 bilhões, subida de 35% na conferência anual.

Furlan, da Setentrião Asset, cita que a operação fora do Brasil foi importante para o resultado e lembra que o valuation da empresa (avaliação de valor de mercado) está descontado. A combinação levou a uma performance mais resiliente do papel em fevereiro.

Os ganhos da Cogna refletem a tendência de dinâmica de preço do papel desde o início do ano, frente ao cenário dos juros futuros em queda, mas houve eventos importantes envolvendo a empresa.

“É uma empresa que tem uma dívida subida, mas também está em um setor que depende de juros, portanto os papéis reagiram. Um indumento um pouco mais individual dela foi o pregão do programa de recompra ações [em janeiro], um tanto muito hostil e ainda há expectativa pelos resultados do 4º tri”, resume Reis, da Blue3 Research.

Na avaliação da XP, as empresas do setor de ensino devem apresentar resultados neutros, com alguma expansão de margens e ganhos de receitas impulsionados pelo bom desempenho de matrículas ao longo de 2024 e, dentre as companhias, a Cogna deve ser o destaque.

A TIM, que engatou boa subida em janeiro – mês que foi para abolsa porquê um todo, conseguiu sustentar ganhos na primeira semana de fevereiro em meio à expectativa por bons resultados trimestrais, o que se confirmou.

“Mesmo sendo um setor sólido, a empresa conseguiu crescer melhorar a rentabilidade, o que foi muito muito recebido pelo mercado ao meu ver. Antes do balanço, a ação estava sendo negociada no patamar de R$ 15,70 e, depois a divulgação, saltou para R$ 17,80”, resume Reis.